quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

O Ilê Iyá Omi Axé Yamassê TERREIRO DO GANTOIS

Trabalho Apresentado a professora Artemisa Odila Cande Monteiro referente à disciplina História e Cultura Afro Brasileira, do curso de Pós Graduação Metodologia da História Cultura Afro-Brasileira . Salvador 2008 Este pretenso trabalho tem o objetivo de resgatar a história de uns dos terreiros mais famosos da Bahia: o terreiro do Gantois. Traremos os aspectos mais importante que fizeram fazem parte desse terreiro como o sua origem, suas principais ialorixas, os aspectos culturais – como dança, música, língua, suas tradições – assim como estaremos levantando o preconceito vivenciado contra esse terreiros durante todo processo histórico. A história do candomblé na Bahia do século XIX é, portanto, a história de sua mistura étnica, racial e, logo, social. Um processo que ocorreu em diversas frentes: a reunião de africanos de diferentes origens étnicas para, juntos, celebrarem seus diferentes deuses, a atração dos descendentes de africanos nascidos na Bahia e a difusão de todo tipo de serviço espiritual entre clientes de diversas origens étnicas, raciais e sociais (REIS, 2005, p.30). Existe uma grande querela entre os estudiosos em relação às datas históricas de origem dos terreiros na Bahia. O antropólogo Valdeloir Rego diz que é mentira a afirmação com relação à existência de casas de candomblé com mais de 300 anos, o mesmo afirma que “a mais velha que existe no Brasil data da segunda metade do século XIX”. Contudo outros estudiosos já afirmam a existência desses terreiros desde o século XVII, tendo como fonte os poemas escritos por Gregório de Matos, em que o mesmo, já mencionava a existência desses terreiros. A tradição oral também defende a tese de que esses terreiros existem a mais de 400 anos. Renato da Silveira (2005), também traz um importante relato sobre a primeira tentativa de que se tem registro de organização e culto aos orixás, na Bahia. O próximo passo, ousado, nessa trajetória de constituição da religião afro-brasileira, seria precisamente organizar o culto na cidade, exibi-lo como instituição urbana legítima, buscar sua oficialização. Foi em Salvador, no bairro da Barroquinha, que essa transição foi tentada com relativo sucesso. Segundo as tradições orais dos nagôs (africanos iorubas, originários da região da Nigéria, Benin e Togo), baianos, o primeiro candomblé de sua linhagem foi fundado em terras situadas atrás da capela de Nossa Senhora da Barroquinha (SILVEIRA, 2005, p.23). da caça, e o terreiro é de Xangô Casa Branca foi o primeiro terreiro fundado na cidade de Salvador. Segundo alguns pesquisadores, este terreiro foi fundado por três negras africanas: Adetá ou Iya Detá, Yia Kalá e Iya Nassô num engenho de cana-de-açúcar situado na localidade da Barroquinha. Esse terreiro foi formado pelas comunidades negras que viviam no Brasil, no período da escravidão descendente das nações Oyó e Ketu; a comunidade da Casa Branca é regida por Oxossi, deus Várias são as versões dos pesquisadores com relação à saída do Ilê Iya Nassô da Barroquinha. Segundo alguns historiadores, esse terreiro saiu da região por causa de sua localidade perto do Palácio de sua real Majestade, uma vez que os negros tinham receio da intervenção das autoridades com relação aos seus cultos. Todavia em outra versão alguns estudiosos defendem que a saída do terreiro está vinculada à introdução dos primeiros engenhos de cana-de–açúcar que obrigou a comunidade, pelo segundo governador geral Duarte da Costa, a se mudar para a fazenda do Engenho Velho, localizado na Federação. O terreiro do Gantois nasceu a após a morte da mãe de santo, Iyá Marcelina que comandava o terreiro da Casa Branca. Com a morte da ialorixá suas duas filhas Maria Júlia da Conceição e Maria Julia Figueiredo disputaram a chefia do candomblé. A liderança da casa coube à Maria Julia Figueiredo, já que esta era a substituta legal. Com esta decisão, Maria Julia da Conceição afasta-se do terreiro com alguns dissidentes e funda o Terreiro do Gantois. alto cercado por um bosque dificultando o acesso dos policiais A ORGANIZAÇÃO-TERREIRO Em 1789, no bairro da Federação, Maria Julia da Conceição funda uma nova Casa chamada Ilê Iya Omi Axé Iyamassê, mais conhecido como terreiro do Gantois, em decorrência do antigo dono das terras, que era um estrangeiro belga traficante de escravos e proprietário de terras. O local foi escolhido por sua difícil localização – situava-se num local Do ponto de vista da organização social, o candomblé deve ser considerado como um grupo baseado na livre participação que, por sua vez, é significativamente influenciada pelo parentesco e pela origem tribal africana. [...]Sua estrutura é hierárquica, com limites de autoridade e responsabilidade bem definidos. [...] O controle social é obtido através das sanções sobrenaturais por aqueles que são investidos de autoridade. A identificação dos membros com o grupo e suas atividades é internalizada para que se torne o mecanismo principal de ajuste individual, provendo a sensação de segurança psicológica e os meios de ascensão social, fins econômicos e de status (HERSKOVITS apud LIMA, 2003,p. 57). Só conhecendo a rotina, as práticas, a linguagem e os rituais das organizações que é possível perceberem suas características culturais, levando em conta as explicações históricas para o modo pelo qual as coisas acontecem nesse universo. Uma cultura pode ser descrita por meio do significado, da compreensão e dos valores compartilhados. A cultura é um processo de construção da realidade que permite observar os acontecimentos de maneiras distintas. Segundo Morgan (1996),pode-se dizer que a natureza de uma cultura seja encontrada nas suas normas sociais e costumes e que, se alguém adere a essas regras de comportamento, ele será bem sucedido em construir uma realidade social adequada. (p.133),Assim sendo, o terreiro de candomblé tem sua cultura própria, herdada dos ancestres africanos, mas também é fruto da reelaboração dessa cultura no Brasil. O intercâmbio sócio-cultural e religioso entre os povos africanos, os europeus e os índios brasileiros resultaram em heranças culturais que, também, foram legados absorvidos pelo universo do terreiro. O ambiente organizacional é permeado por símbolos, regras e preceitos, conformando um código de ética peculiar entre o povo-de-santo. No universo dos terreiros, a forma de apreender a cultura organizacional e absorver os conhecimentos rituais dá-se por meio do learning by doing., ou seja, é na prática que se aprende. Não é adequado perguntar, observam-se tudo e se guarda o segredo, ou awò, em iorubá. A cada elevação na escala hierárquica, o iniciado vai tomando conhecimento dos chamados fundamentos, ou seja, o saber ritual. Certamente, o pai ou mãe-de-terreiro é quem detém o maior conhecimento, ou segundo Bourdieu, o maior capital simbólico. É preciso pensar o candomblé, também, como sistema político. No entanto, aqui, a novidade é utilizar esses conceitos na organização do terreiro, ainda que suas bases possam ser distintas daquelas das organizações tradicionalmente estudadas pela Administração. Equipara-se o Babalorixá a um administrador, pois, enquanto líder de uma organização exerce função de comando e gerência, tem o poder de decidir, de controlar recursos e de dar ordens. Busca manter a ordem dirige o terreiro e tem pessoas sob sua autoridade. A despeito do caráter religioso, da crença nas divindades e da ordem aparentemente inquestionável, sendo um grupo social, também reconhecido como família-de santo, não deixam de existir em seu interior interesses pessoais que podem, muitas vezes, gerar conflitos, como veremos mais diante. Para auxiliar na compreensão do caráter político do terreiro, quando se falar em administração deve-se considerá-la como o mais alto posto da hierarquia, que é o de pai ou mãe-de-santo, acompanhado dos ogãs e iyarobás e outros portadores de cargos de mando nos terreiros. Ao reconhecer que a organização é intrinsecamente política, no sentido de que devem ser encontradas formas de criar ordem e direção entre as pessoas com interesses potencialmente diversos e conflitantes, muito pode ser aprendido sobre os problemas e a legitimidade da administração como um processo de governo e sobre a relação entre organização e sociedade (MORGAN, 1996, p.146). Se existem uma ordem e direção de um grupo de indivíduos, certamente haverá a possibilidade de ocorrerem, em graus variados de intensidade: conflitos de interesse, desejo de poder, submissão às regras e à autoridade, disputas e, em alguma medida, até resistência a essa autoridade, dissensões e autoritarismo. Observar o candomblé também como sistema político, pressupõe a tentativa de identificar essa possibilidade, demonstrar como esta acontece e descobrir suas razões, sem nunca perder de vista a existência dos orixás. Não se vai aqui negar o poder das divindades, pelo contrário, esse é um pressuposto ao qual não cabe o questionamento, mas pretende-se descer à esfera do poder dos agentes: pai ou mãe-de-santo, ogãs, iyarobás, ebômis, iaôs e abiãs. A seguir, resumidamente, descreve-se a configuração física básica do terreiro:Um salão maior, situado à entrada da casa, mais conhecido como barracão, ocorrem as festas e cerimônias públicas, é o espaço do terreiro que é aberto ao contato com a comunidade externa. Ainda dentro de casa fica o quarto do santo, aposento sagrado onde se encontram os peji, que são os assentamentos (representações materiais simbólicas dos orixás). Há, também, na parte interna, algumas salas para circulação de pessoas ou de orixás incorporados em seus filhos nas ocasiões de festa; a camarinha ou runcó, também chamada de rondeme ou ariaxé, local onde o iniciado permanece por alguns dias no período de sua iniciação. No fundo da casa fica a cozinha, local onde se faz a comida ritual; constitui-se num espaço profícuo de transmissão de conhecimentos e aprendizado. Na cozinha, se aprende a fazer a comida do santo, a cantar e ouvir os ensinamentos dos mais velhos. Há os banheiros e os quartos para dormir o do Babalorixá, o dos ebômis e o das visitas; os iaôs geralmente dormem em esteiras dispostas no barracão. Na entrada do terreiro ficam as casas dos Exus e o assentamento de Ogun. A manutenção do terreiro, no que tange aos recursos financeiros necessários à sua existência, ocorre por meio das contribuições dos filhos-de-santo, eventuais doações, serviços prestados, como o jogo de búzios e ebós, ou o próprio pai-de-santo arca com as despesas do seu próprio bolso. Os gastos num terreiro são muito grandes, os rituais requerem uma série de materiais: comidas para as oferendas, animais, fogos de artifício, objetos para decoração, roupas dos filhos-de-santo e de seus orixás. Observam se, freqüentemente, nas ocasiões das obrigações no terreiro, quando se reúnem, além dos filhos de santo, os visitantes, os membros do terreiro coletando entre si contribuições para comprar gêneros alimentícios, materiais necessários ao andamento das atividades,ou até mesmo pra pagar alguém pra carregar água e encher um tanque. O terreiro constitui-se assim, num espaço de trocas, dádiva e solidariedade impedindo, deste modo, as perseguições aos cultos. de ialorixá, denota uma relação genitiva entre os dois termos a mãe que tem., .que A palavra Iya . mãe . em ioruba possui vários sentidos, inclusive o classificatório dos familiares. Iya é a mãe biológica, mas também qualquer parente feminino da geração dos pais . as irmãs da mãe ou do pai e suas primas, para empregar o termo de parentesco de uso no Brasil. Prefixada a uma palavra outra qualquer, como no caso possui. o orixá (LIMA, 2003, p. 59). É praticamente impossível pensarmos sobre a cultura brasileira e sua multifacetada identidade sem consideramos a intensa contribuição das várias formas de religiosidade em sua composição e, nestas, a capital presença das mulheres, mãe-de-santo. Ela é a responsável por tudo que acontece no terreiro, ninguém faz nada sem sua prévia autorização. Sua função é sacerdotal, ela faz consultas aos Orixás através do jogo de búzios onde através dele alguns tereiros escolhe sua mãe-de-santo. Contando com a ajuda de muitas pessoas para a administração da casa, cada um tem uma função específica na hierarquia, mas todos sabem fazer de tudo para um caso de emergência. A responsabilidade, a quantidade de filhos-de-santo, a quantidade de clientes, e a quantidade de problemas a serem resolvidos não se comparam ao de uma casa menor. A Iyalorixá das grandes casas conta com a ajuda de um grupo de auxiliares. Ao passo que nas casas menores a Iyalorixá, além da função sacerdotal acumula diversas outras funções, devendo ser conhecedora das folhas sagradas, seus segredos e aplicações litúrgicas, em caso de rituais ligados aos Eguns ou se especializa ou consulta um Ojé quando necessário, quando a casa ainda não tem um Axogun confirmado ela mesmo faz os sacrifícios, quando a casa ainda não tem Alagbê normalmente a Iyalorixá convida Alagbês das casas coirmãs para tocar o Candomblé, na ausência da Iyabassê ou Ekedi ela mesmo faz as comidas dos Orixás, costura as roupas das Iaô, faz as compras, tudo depende dela. O que diferencia a mães de santo do Gantois de outros terreiros tradicionais da Bahia, é que a sucessão se dá pela linhagem e não através de escolha pelo jogo de búzios. De acordo com o antropólogo Julio Braga: "Historicamente, o Gantois é um candomblé familiar de tradição hereditária consangüínea, em que os regentes são sempre do sexo feminino". As Sacerdotisas do Gantois; Maria Júlia da Conceição Nazaré- Nasceu em 1910 e em 1949 foi a fundadora, após uma disputa pelo cargo da Casa Branca do Engenho Velho saiu dessa casa e em1849 fundou o Ilê Iya Omin Axé Iyamassê (Terreiro do Gantois).Iyá Nassô uma das fundadoras do Ilè Asé Airá Intilè também chamado de Candomblé da Barroquinha, localizado no bairro da Barroquinha, avó de mãe Meninha ,foi sucedida por Iyá Marcelina. Após a morte desta, duas das suas filhas disputaram a chefia do candomblé, cabendo à Maria Júlia Figueiredo que era a substituta legal (Iyá Kekeré) tomar a posse de Iyálorixá do Terreiro.Maria Júlia da Conceição afastou-se com as demais discidentes e fundaram o Terreiro do Gantois. Pulchéria Maria da Conceição Nazaré ou Mãe Pulchéria, (1840-1918), foi a segunda Iyálorixá do Terreiro do Gantois, sucessora de Maria Júlia da Conceição Nazaré, Como não teve filhos, o cargo foi transmitido em 1918 para sua sobrinha, Maria da Glória Nazareth a mãe carnal de mãe Menininha do Gantois. Tia de Mãe Menininha, que faleceu em 1818, deixando o posto para a sobrinha Mãe Meninha. Sua mãe, Maria Júlia, moradora da antiga rua da Assembléia,no atual Centro Histórico de Salvador, pertencia ao Candomblé da Barroquinha (depois transferido para o Engenho Velho com o nome de Ilé Iya Nassô Oká) e, tendo sido preterida na sucessão da casa, resolvera fundar sua própria, onde hoje fica a Federação, em terreno alugado por seu pai, Francisco. Era o terreiro do Gantois - nome derivado da família belga de traficantes de escravos que era dona do local. Pulchéria assumiu o Gantois no ano de 1910 ampliando os trabalhos iniciados pela mãe. Frequentava o Gantois, neste período, o célebre médico Nina Rodrigues, vindo posteriormente a se tornar, ogã. Além dele, Pulchéria conseguiu ampliar os trabalhos e dar grande notoriedade ao Gantois, tendo mais tarde registrado o jornal O Estado da Bahia, depoimento de Severiano Manoel de Abreu (o Jubiabá do romance de Jorge Amado) que "Pulcheria, Nana e Nicácio tiveram as suas roças freqüentadas por destacadas figuras sociais da cidade, políticos eminentes, secretários de governos passados, etc. , durante os dias de festa, rodeando as camarinhas onde as filhas de “Xangô”, “Oxalá” e “Oxóssi” faziam o seu noviciado com filhas de santo, trajando de branco e de cabeça rapada".Segundo ainda o mesmo jornal, no Gantois o "terreiro da Pulchéria" continuou, mesmo após sua morte, a ter este nome como reconhecimento junto ao grande público. Assim foi que, a 26 de maio de 1937, publicou O Estado da Bahia, a seguinte nota: Um novo “terreiro” no Gantois Será lançada manhã, às cinco horas da tarde, a pedra fundamental do novo “terreiro” do Gantois, ampliando a construção antiga. Fará essa festa, os “Ogãs” e as pessoas gradas do candomblé estão convidando todos os seus amigos. Depois dessa cerimônia, começará a festa no velho “terreiro” da Pulcheria, pela noite a dentro. Maria da Glória Nazareth ( - 1920) foi a terceira Iyálorixá do Terreiro do Gantois,Foi a sucessora de Pulchéria Maria da Conceição e foi sucedida no cargo em 1922 por sua filha canal Mãe Menininha do Gantois. Maria Escolástica da Conceição Nazaré(- 1894-1922) mais conhecida como Mãe Menininha do Gantois, nasceu em 10 de fevereiro de 1849. Esteve à frente do Gantois por 64 anos e foi a mais conhecida Iyalorixá do Brasil. Era uma pessoa que sabia como lidar de um jeito muito especial com os seres humanos. O Ile Iya Omi Axé Iya Masse, conhecido como Terreiro do Gantois, talvez seja o único no Brasil que preserva em sua direção uma descendente direta das africanas fundadoras do primeiro candomblé de origem yoruba, o Ile Axé Aira Entile, fundado no século XIX no Bairro da Barroquinha. Mãe Menininha faleceu em 13 de agosto de 1986, sendo sucedida por Mãe Cleusa de Nanã, sua filha mais velha. Com seu falecimento, hoje o Gantois é presidido pela filha mais jovem de Mãe Menininha, Mãe Carmem de Oxalá. Por ser somente sucedido por hereditariedade, e não por outros membros do terreiro, o Gantois desfruta de uma particularidade que o diferencia dos demais. Mãe Menininha, apesar de batizada pelo nome de Maria Escolástica da Conceição Nazareth, não professava sua religião com sincretismo. “Há algumas polêmicas a respeito do Gantois ser tão famoso por ser sincrético, no entanto, observa-se que apenas que respeitamos e acreditamos que Deus é um só, não importa em que idioma é falado o nome do criador” diz mãe Menininha. Mãe Menininha era um exemplo a ser seguido de mulher afro-descendente, pois era uma pessoa muito à frente do seu tempo. A humildade, a doçura e o pulso firme, quando necessário, fez dela uma grande personalidade, nada abalando sua fé nessa religião e cultura de resistência, até hoje perseguida por uns e não compreendida por outros. Ecumênica, Mãe Menininha nunca deixou de assistir à missa, numa prova de que o sincretismo religioso da Bahia não é mero chavão. Podia comungar pela manhã e celebrar os rituais do candomblé à noite. No meio tempo, cuidava das duas filhas - Cleusa e Carmen - e coordenava todas as atividades do terreiro. Não eram poucas, já que dentro do próprio Gantois criavam-se galinhas e cultivavase milho. Sem cobrar um tostão, passava o dia atendendo seus seguidores. Para dar uma trégua aos santos, entregava-se de corpo e alma a pequenos prazeres. Dentre algumas curiosidades que envolvem a personalidade de Mãe Menininha do Gantois sabe-se que ela adorava assistir telenovelas, sendo que uma de suas telenovelas preferidas foi "Selva de Pedra". Era colecionadora de peças de porcelana, louça e cristais, sobre os quais guardava muito zelo. Não bebia coca-cola, pois certa vez lhe disseram que a bebida servia para desentupir pias e ela temia que a ingestão da bebida fizesse efeito análogo em si. A nome de Mãe Menininha por ela ser muito miúda e seus cantores preferidas era Maria Bethânia, ainda hoje freqüentadora do Gantois, junto com o irmão Caetano Veloso. Por trás das poderosas lentes dos óculos da mãe-de-santo havia uma mulher de força inabalável. Mais que superar preconceitos e afirmar o candomblé como símbolo da cultura negra, abriu a seita para novos seguidores. Mais que ser católica, convenceu os bispos a permitir a entrada nas igrejas de mulheres com os tradicionais vestidos do candomblé. Vestidos que ela mesma exibia com elegância: brancos para Oxalá, dourados para Oxum e azuis para Oxóssi. Cleuza Millet ou Mãe Cleusa de Nanã – A quinta Iyálorixá do Terreiro do Gantois. Foi sucedida por sua irmã Carmen de Oxalá. Mãe Cleuza e Mãe Carmen eram filhas de Mãe Menininha do Gantois, e netas de Maria da Glória Nazareth a terceira Iyálorixá do mesmo tereiro.No Gantois, quem assume o lugar da mãe é a filha mais velha, essa é a tradição da casa. Quando o marido se aposentou, o casal voltou à Bahia e começou a reaproximação com o candomblé. A transição se deu de maneira sutil, sem que Cleusa percebesse. Mãe Cleusa construiu toda uma vida longe do candomblé, casou-se aos 21 anos com um oficial da Marinha de Guerra, teve três filhos, Mônica, Zeno e Álvaro, viajou por muitos países. Na volta, decidiu morar no Rio de Janeiro e passou a exercer sua profissão, estudou Medicina na Universidade Federal da Bahia, seu primeiro emprego foi de obstetra. Segundo Julio Braga: "Historicamente, o Gantois é um candomblé familiar de tradição hereditária consanguínea, em que os regentes são sempre do sexo feminino.” A história se repetiu com tons de modernidade. Sua filha mais velha, Mônica, se recusa a assumir o "trono". Carioca, Mônica não foi criada em uma casa de candomblé como a mãe. Seu maior interesse é música: Diz Mônica: "Acho que a sucessora será uma das minhas primas, filhas de mãe Carmem. Elas têm mais jeito para assumir as funções do candomblé do que eu", Mãe Carmem é a irmã caçula de mãe Cleusa, seu braço-direito e responsável pelas tarefas administrativas do terreiro. Mônica diz que o seu trabalho com os meninos do Gantois não tem ligação com o candomblé. "Trabalho com música e escolhi as crianças daqui, mas poderiam ser de qualquer outro lugar." Mas Cleusa diz que joga nas mãos de Deus a escolha da nova guia. "Será quem Deus e os orixás decidirem. Mas a sucessão tem de ser hereditária. Quando não estiver mais aqui, serei substituída por alguém da família." Sobre a rebeldia de Mônica, mostra-se compreensiva. Mãe Carmen do Gantois- É a Iyalorixá do Candomblé, do Terreiro do Gantois, na cidade de Salvador, Bahia, Brasil. É a filha mais nova de Mãe Menininha do Gantois e a irmã caçula de Mãe Cleusa Millet, foi iniciada no Candomblé para Oxalá quando ainda era criança. Após a morte de Mãe Cleusa Millet assumiu o Terreiro mais famoso do Brasil. Mãe Carmen trás o segredo do Axé tendo ao seu lado suas duas filhas: Angela de Oxum e Neli de Oxossi. Nação Keto O Candomblé abriga em suas lides várias tradições religiosas conhecidas como Nações. A Nação Ketu, (Os Candomblés mais importantes principalmente na Bahia são de Nação Ketu.) que tomou o nome de um dos povos yorubanos, onde a família Arô reinava, na época da escravidão e do tráfico para o Brasil, e que cultuava Orixás de várias origens daquele povo, além de diversas divindades de povos que eram seus vizinhos na África e se influenciaram mutuamente tanto na sua terra natal, quanto na diáspora. Os grupos que falavam a língua yorubá entre eles os de Oyó, Abeokuta, Ijesá, Ebá e Benin vieram constituir uma forma de culto denominada de Candomblé da Nação Ketu. Ketu era uma cidade igual às demais, mas no Brasil passou a designar o culto de Candomblé da Nação Ketu ou Alaketu. Esses yorubás, quando guerriaram com os povos Jejes e perderam a batalha, se tornaram escravos desses povos, sendo posteriormente vendidos ao Brasil. A Nação Ketu é a maior e a mais popular “nação” do candomblé, uma das religiões afrobrasileira, é uma variação religiosa do Candomblé. Ketu é o nome de um antigo reino da África, na região agora ocupada pela República Popular do Benin e pela Nigéria. Seu rei tem o nome de Alaketu, de onde vem o sobrenome da conhecida Ialorixá Olga de Alaketo. Em termos de identidade cultural, forma uma subdivisão da cultura iorubana. Em geral, membros de origem Ketu são responsáveis por boa parte dos terreiros mais tradicionais da Bahia. É a maior e mais popular nação do Candomblé, e a diferença das outras nações está no idioma utilizado, no caso o Yorubá, no toque dos seus atabaques, nas cores e símbolos dos Orixás, e nas cantigas; Os fundamentos são passados oralmente por sacerdotes de Orixás que são chamados de Babalorixá (masculino) Yalorixá (feminino). Os rituais mais conhecidos são: Padê, Sacrifício, Oferenda, lavar contas, Ossé, Xirê, Olubajé, Águas de Oxalá, Ipeté de Oxum e Axexê. Uma outra grande diferença é em relação ao culto dos Eguns; existe um sacerdote preparado para este ritual especifico chamado Ojé ou Baba Ojé, que faz o uso de um ixãn para dominar os Eguns; conforme informações de um antigo sacerdote de Ketu, chamado Balbino de Xangô, quem lida com Orixás não lida com Eguns; Já no Rio Grande do Sul, é o próprio Sacerdote de orixá quem faz os rituais de Eguns. Os cargos principais na nação Ketu são: - Babalorixá ou Yalorixá: autoridades máximas no Candomblé- Iyakekerê: mãe pequena- Babakekerê: pai pequeno- Yalaxé: mulher que cuida dos objetos ritual.- Agibonã: mãe criadeira supervisiona e ajuda na iniciação.- Egbomi: pessoa que já cumpriu sete anos de obrigação.- Iyabassê: mulher responsável pela preparação das comidas de santo.- Iaô: filha de santo (que já incorpora Orixá).- Abian: novato.- Axogun: responsável pelo sacrifício de animais.- Alagbê: responsável pelos atabaques e pelos toques.- Ogan: tocadores de atabaques.- Ajoiê ou Ekedi: camareira de Orixá.Os Orixás cultuados na nação Ketu são: Exu, Ogum, Oxossi, Logunedé, Xangô, Obaluayê, Oxumaré, Ossaim, Oyá ou Iansã, Oxum, Iemanjá, Nana, Ewa, Oba, Axabó (Orixá feminino da família de Xangô),Oxalá, Ibeji, Irôco, Ifá ou Orunmila. Na nação Ketu, predominam os Orixás de origem Yorubá, e os terreiros mais conhecidos são: a Casa Branca do Engenho Velho, o Ilê Axé Opô Afonjá, o Gantois; o Candomblé de Alaketu e o Ilê Axé Opô Aganjú localizado em Lauro de Freitas. O Candomblé de origem ketu já se espalhou por todos os grandes centros urbanos do Brasil e também para o exterior, e nota-se um movimento de recuperação de raízes africanas, que rejeita o sincretismo católico, procurando reaprender o yorubá como língua original e tenta reproduzir os rituais que estavam perdidos ao longo do tempo, há casos em que muitos sacerdotes procuram viajar até África para descobrir mais sobre a cultura dos Orixás. CULTURA (Festa, oralidade e dança) Esse processo, que influencia toda a vida na Bahia e especificamente em Salvador, vem Nos últimos 20 anos a cultura baiana tem sido explorada como um marketing para a potencialização da indústria do turismo. Nesse sentido, passou-se a investir ainda mais nas festas populares, buscou-se exibir a arte e a música que são tão particulares, a reconhecer a diversidade de sua população e enfim a tentar valorizar a herança dos povos que originam a Bahia e hoje. Com isso, as práticas de antigos costumes e crenças ganharam maior importância para o próprio povo e se tornaram, em muitos casos, mais constantes. tornando as pessoas mais conscientes de sua história, já que acaba “mexendo” com as formas de trabalho e de comercialização, de estabelecimento de horários, calendários, relações, O que antes era motivo de preconceito começa a aparecer como motivo de orgulho, de Nas celebrações dessas entidades negras, o sagrado e o profano freqüentemente se vestimentas, o conceito de beleza e a própria auto-estima. E essa influencia é ainda maior no que diz respeito a religiosidade assumir de raízes. O candomblé, muitas vezes recriminado, deixou o seu disfarce para assumir a posição de religião. misturavam. Além de procissões e missas, a festa se fazia de comilanças, mascaradas e elaboradas cerimônias, em que se entronizavam reis e rainhas negros devidamente aparatados com vestes e insígnias reais. O que dava prazer mesmo à minha mãe era o candomblé dela, um atabaque bem tocado. Poxa, quando ela ouvia um atabaque, um agueré bem tocado, ai! Ebômim Cidália Neste livro a autora fala que Mãe Menininha era festeira de alma e gostava muito de No Gantois, esses festejos eram memoráveis. Mãe Menininha costumava comemorar Segundo Maíra Portela a primeira grande festa do ano no Gantois é em homenagem Esta declaração são palavras de uma das filhas – de – santo de Mãe Menininha , que se encontra em uma biografia da iyálorixa mais famosa do Brasil. rodar a baiana. Não perdia a chance de celebrar nada. Para ela dias de festas eram um verdadeiro bálsamo nas aflições cotidianas, pois era uma religião que discriminada, sendo os festejos uma maneira de elevar o espírito, e inspirar o bom- humor de todos. com muita alegria o encerramento das obrigações de alguns orixás, como Oxossi e Oxum. Ao fim das obrigações, o ciclo das festas, todos da comunidade trocavam a indumentária ritual e em “ roupa de civil “, caíam na folia. A mais famosa das festas do Gantois, foi a chamada Noite Azul, batizada assim em função da cor do orixá homenageado, Oxossi, patrono do Gantois, da caça e dos caçadores, o deus da fortuna. OXÓSSI, orixá da caça, provedor e protetor da família. E a festa seguiu da seguinte forma: O rufar dos tambores anuncia a chegada da procissão. O grupo, que antes participara de uma missa na Igreja de Santana, Rio Vermelho, entra pela porta da frente do Terreiro de Gantois, na Federação, trazendo como oferenda flores e a imagem sacra de São Jorge. Mas, na primeira festa do ano no Gantois, é dia de saudar Oxóssi, patrono do candomblé na Bahia, provedor e protetor da família. O ritmo dos atabaques muda, alguns Lourdes, 74, baiana, iniciada no Terreiro de Gantois, que hoje luta pela disseminação Festas e comemorações nos terreiros fazem parte da tradição de cada casa. No Gantois, filhos e filhas-de-santo incorporam o orixá, dançam no meio do salão e recebem saudações dos adeptos. A festa, entretanto, está apenas começando. Após o ritual, um grande café da manhã, servido quase na hora do almoço, é símbolo de confraternização. Em seguida, cada filho e filha-desanto realiza as obrigações de Oxóssi: prepara oferendas, limpa a casa, produz comidas de axé. Oxóssi é também o orixá da caça, por isso é considerado pelos humanos um grande herói provedor, que leva o alimento diário às famílias. Para saudar a virtude do deus, um grande churrasco, que representa o alimento de Oxóssi. À noite, o patrono do candomblé apresenta-se caracterizado. É o grande ápice dos festejos, que duram até o final da semana. Depois, inicia-se o calendário de festas, que segue até 2 de dezembro. O dia de Oxóssi é esperado o ano inteiro pelos adeptos da religião de matriz africana, afinal é quando reinicia-se o ciclo de atividades do terreiro. Apesar de acontecer em paralelo às homenagens a São Jorge, louvar o orixá não envolve sincretismo. “A missa católica é uma tradição dos antigos, que não rejeitamos. Mas aqui dentro é algo completamente diferente. É puro candomblé”, explica a iadagan (terceira na hierarquia) do Gantois, Neli Cristina de Oxóssi. O puro candomblé, ao mesmo tempo que encanta, assusta. Pela primeira vez em um terreiro, a paulista Larissa Miranda estremeceu ao ver as incorporações e os transes constantes durante as danças em homenagem a Oxóssi. “Estou me sentindo nervosa, vou embora agora”, disse às pressas. Mas o ritual nada tem de agressivo. De olhos fechados, com faixas de tecido amarradas ou no peito ou nos ombros – para diferenciar os orixás masculinos e femininos – os incorporados eram guiados pela batucada e sequer esbarravam uns nos outros. O salão cheio de orixás incorporados deixou a consultora de saúde, Iara Alves, 60 anos, orgulhosa. Ela veio do Rio de Janeiro apenas para homenagear Oxóssi, pela quinta vez. “Oxóssi é rei, é pai. Peço muita bênção, axé, saúde e paz. Hoje (ontem) é o dia ideal para se pedir tudo que se tem vontade”, anunciou. Ela é filha de mãe Edelzuita de quando a fama de Menininha ainda não se havia espalhado para além das próprias fronteiras, elas tinham um caráter mais íntimo, voltado para a comunidade. Porém, depois que o dia 10 de fevereiro, data do aniversário da ialorixá, ganhou ares de feriado, e o Gantois passou a ser freqüentado por pessoas de fora, as celebrações perderam o verdadeiro sentido. Ao terreiro chegava um cortejo de celebridades, e ao povo-de-santo restava o lugar de figuração. A As festas do Gantois são uma tradição que vem dos tempos de Maria Pulquéria Nazareth Quartinhas Essa festa é ORÔ. No candomblé, o que se chama orô é aquilo que é do santo, é uma quantidade de gente famosa que procurava menininha para felicitá-la em seus aniversários mostra bem esta transformação. tia-bisavó de Mãe Menininha. Desde século XIX , por exemplo, acontece a Festa das coisa intocável, que ninguém pode revelar. Esse oro é fundamento de Oxossi de Maria Pulquéria. O povo ioruba não conheciam a escrita, com com achegada dos europeus eles passaram Essa forma nova de conhecer o aprendizado e o saber entra em conflito, quando alguns O candomblé no século XIX apresentava uma tradição de povos iorubas, nagôs, com influencias de costumes trazidos por grupos fons, aqui denominados jejes, e residualmente por grupos africanos minoritários. O candomblé ioruba, ou jeje nagô, como costuma a ser designado, fundiu aspectos culturais originários de diferentes cidades iorubas, dando origem aqui, a diferentes ritos ou nações. a conhecer. Antes todo o conhecimento baseava-se na oralidade . Mitos, formulas rituais, louvações, receitas medicinais, etc., tudo se aprendia pela repetição tendo a figura do mestre, como sábio, para acompanhar o aprendiz por muito tempo. membros do candomblé, que já estão escolarizados, passam a se valar das formas escritas. Segue algumas palavras e seu significado: Este trabalho que trouxe à tona temáticas referente o terreiro do Gantois, Inicialmente, situamos no tempo e espaço o surgimento do memso,as expressões de poder e hierarquia existentes , em seguida, tratamos da Nação Keto, das Mães- de Santo e da sua cultura. Trata-se de uma pesquisa feita pelo grupo de Pos-graduação em Cultura Afro o qual tivemos muita dificuldade em encontrarmos material da temática “Terreiro do Gantois”. Observamos durante nossa pesquisa que a figura maior do terreiro é “Mãe menininha” e que basicamente a História do terreiro começa a partir do seu legado. No entanto o pouco que obtivemos de material anterior a isso nos deixa bastante intrigado como pesquisadores que somos e futuramente desejamos desvendar esses mistérios. LIMA, Fábio Batista. Os candomblés da Bahia: tradições e novas tradições. Salvador: UFBA/ARCADIA, 2005. PRANDI, Reginaldo. Herdeiras do axé: sociologia das religiões afro-brasileiras. São Paulo: Hucitec, 1996. 200 p. LANDES, Ruth . Cidade das Mulheres,UFRJ, 1947. SILVA, Vagner Gonçalves da Caminhos da Alma, SUMMUS, 2002. _. “Roger Bastide: Nordeste místico, roteiros africanos e cidades brasileiras”. In: Roberto Motta (org.). Roger Bastide Hoje: raça, religião, saudade e literatura. Recife, Bagaço, 2005, p. 193-212. http://candomblebra.blogspot.com/2008/01/ketu.html>Acesso em 19 out. 2008 http://fotolog.terra.com.br/ellegua:4>Acesso em 19 out. 2008 w.emtursa.ba.gov.br>Acesso em 19 out. 2008 http://pt.wikipedia.org/wiki/Candombl%C3%A9_Ketu>Acesso em 19 out. 2008 http://soteropolitanosculturaafro.files.wordpress.com/2007/1/gantois.jpg>Acesso em 17 out. 2008 http://religioes.abril.com.br/edicoes/13/mestresdiscipulos/conteudo_religioes_49791.shtml> Acesso em 17 out. 2008 Anexos: Algumas palavras e seu significado em ioruba: Àgbá = Mais velho Ajé owo = Dinheiro Ala= Sonho Alagba = Chefe Alagbara = Forte, bravo Alagbede = Ferreiro Alaimo = Barro Alamoju = Sabedoria Alaye = Vivo Ale = Noite Alubosa = Cebola Awó = Galinha B Bàbá = O Pai Bè = Pedir Béérè = Primeira filha Ba = Ajudar Bi oyin = Açúcar Baba Kekere = Pai pequeno D Dagba = Crescer Dakun = Por favor Dudu = Preto Dupe = Graças, agradecer E Edé = Camarão Ede ai yede = Atrito Ede potoki = Português Egbo Obirin = irmã mais velha Ekini = Primeiro Èsan = Vingança Epo = Azeite, óleo Enia Dudu = Negro Èwe = juventude Ewe ase = Folha de árvore Eyin oju = Olhos È mi = Vida Emi = Espírito Eni = Pessoa Eranko = Animal Èmi = Eu Erú = escravo Èwe = Criança F Fenuco = Beijar FIFA = Fumo Funfun = Branco Fonahan = Guiar Fafá = Inteligente Fári = Raspar cabeça G Gbàdúrã = Rezar Gafara = Licença Gari = Farinha Gun = Subir Gbó = Envelhecer Gba...gbo = Crer I Ibà = Abençoar Ibanuje = Tristeza Ibere = Principio, inicio Ida oba = Espada do rei Ida orisa = Espada do orisá Ida keji = Duas espadas Igbá = Cabaça Igba = Tempo Igba tingbo = Futuro Ijo = Dança Ijogbon = Problema Ile =Casa Ile aiye = Terra Ilera = Saúde Iná = fogo Iyá = Mãe Ìsìn = Religião Iran = Família Ipá = Força Ire =Benção Ìfé = Amor Ìgè = Nome J Já = Brigar Jalé = Roubar Jana = Entrar no caminho Jéwó = Falar verdade Jo = Aparecer Jù = Jogar fora Jeki = Deixar Ji = Acordar K Ka = Recolher, dobrar Ki = Grosso Korò = Amargo Kòtò = Buraco Ko = Escrever Kawe = Ler Ké = Gritar Kia = Rápido Ko daju = Dúvida L Lãbé = Embaixo Láàláà = Esforço Leba = Perto Lewa = Formosa Lona = Ontem Lorun = No céu M Mu= Fumar Mo juba = Abençoar Mo = Saber Um omi = Tomar água Mu otí = Tomar bebida N Na ojà = Negociar, pechinchar Nkan = Coisa Nlã = Grande Nu = Sumir Njeun = Comendo Nsun = Dormindo O Òbí = Fêmea Ode = Fora Odindi = Completo Odó = Rio Òdódõ = Flor Òfõfõ = Fofoca Òjò = Chuva Olúwa = Deus Òkú = Cadáver Oluko = Professor Omi = Água Omi tutu = Água fria Omi oriá = Água de santo Omi gbigbona = Água quente Omi yin yin = Água gelada Omi Dudu = Café Omije = Lágrima Onisegun = Médico P Paru = Panela Patewo = Aplaudir Põn = Sujo Pano no = Calar a boca R Ranti = Lembrar Rara = Libertar Résèsélè = Humilhação S Sã = Fugir Sise = Trabalho Séwó = Trocar dinheiro So = Amarrar So nu = Perder Sunmo = Perto Sísin = Enterro Sùrù = Paciência Soge = Ser vaidoso T Tife-tife = Amizade W Wéré = De repente Wúrà = Ouro Wara Omu = Leite materno Wéjo = Reclamar Wéfun= Dizer Walè = Cavar o chão Woso = Vestir-se Y Yá = Emprestar Ya = Rasgar Yà = Desenhar Yan = Espreguiçar Yèyé = Mãezinha, “queridinha” Yiá = Mãe, senhora DANÇA EM FESTA Filha de Santo possuída por seu Orixá Maria Júlia da Conceição Nazaré Pulchéria Maria da Conceição MÃES- DE- SANTO Maria Escolástica da Conceição Nazaré Cleuza Millet Mãe Carmen do Gantois

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Iyami é freqüentemente denominada eleyé, dona do pássaro. O pássaro é o poder da feiticeira; é recebendo-o que ela se torna ajé. É ao mesmo tempo o espírito e o pássaro que vão fazer os trabalhos maléficos. Durante as expedições do pássaro, o corpo da feiticeira permanece em casa, inerte na cama até o momento do retorno da ave. Para combater uma ajé, bastaria, ao que se diz, esfregar pimenta vermelha no corpo deitado e indefeso. Quando o espírito voltasse não poderia mais ocupar o corpo maculado por seu interdito. Iyami possui uma cabaça e um pássaro. A coruja é um de seus pássaros. É este pássaro quem leva os feitiços até seus destinos. Ele é pássaro bonito e elegante, pousa suavemente nos tetos das casas, e é silencioso. "Se ela diz que é pra matar, eles matam, se ela diz pra levar os intestinos de alguém, levarão". Ela envia pesadelos, fraqueza nos corpos, doenças, dor de barriga, levam embora os olhos e os pulmões das pessoas, dá dores de cabeça e febre, não deixa que as mulheres engravidem e não deixa as grávidas darem à luz. As Iyami costumam se reunir e beber juntas o sangue de suas vítimas. Toda Iyami deve levar uma vítima ou o sangue de uma pessoa à reunião das feiticeiras. Mas elas têm seus protegidos, e uma Iyami não pode atacar os protegidos de outra Iyami. Iyami Oshorongá está sempre encolerizada e sempre pronta a desencadear sua ira contra os seres humanos. Está sempre irritada, seja ou não maltratada, esteja em companhia numerosa ou solitária, quer se fale bem ou mal dela, ou até mesmo que não se fale, deixando-a assim num esquecimento desprovido de glória. Tudo é pretexto para que Iyami se sinta ofendida. Iyami é muito astuciosa; para justificar sua cólera, ela institui proibições. Não as dá a conhecer voluntariamente, pois assim poderá alegar que os homens as transgridem e poderá punir com rigor, mesmo que as proibições não sejam violadas. Iyami fica ofendida se alguém leva uma vida muito virtuosa, se alguém é muito feliz nos negócios e junta uma fortuna honesta, se uma pessoa é por demais bela ou agradável, se goza de muito boa saúde, se tem muitos filhos, e se essa pessoa não pensa em acalmar os sentimentos de ciúme dela com oferendas em segredo. É preciso muito cuidado com elas. E só Orunmilá consegue acalmá-la. Quando se pronuncia o nome de Iyami Oxorongá quem estiver sentado deve se levantar, quem estiver de pé fará uma reverência pois esse é um temível Orixá, a quem se deve respeito completo. Pássaro africano, Oxorongá emite um som onomatopaico de onde provém seu nome. É o símbolo do Orixá Iyami, ai o vemos em suas mãos. Aos seus pés, a coruja dos augúrios e presságios. Iyami Oxorongá é a dona da barriga e não há quem resista aos seus ebós fatais, sobretudo quando ela executa o Ojiji, o feitiço mais terrível. Com Iyami todo cuidado é pouco, ela exige o máximo respeito. Iyami Oxorongá, bruxa é pássaro. As ruas, os caminhos, as encruzilhadas pertencem a Esu. Nesses lugares se invoca a sua presença, fazem-se sacrifícios, arreiam-se oferendas e se lhe fazem pedidos para o bem e para o mal, sobretudo nas horas mais perigosas que são ao meio dia e à meia-noite, principalmente essa hora, porque a noite é governada pelo perigosíssimo odu Oyeku Meji. À meia-noite ninguém deve estar na rua, principalmente em encruzilhada, mas se isso acontecer deve-se entrar em algum lugar e esperar passar os primeiros minutos. Também o vento (afefe) de que Oya ou Iansan é a dona, pode ser bom ou mau, através dele se enviam as coisas boas e ruins, sobretudo o vento ruim, que provoca a doença que o povo chama de "ar do vento". Ofurufu, o firmamento, o ar também desempenha o seu papel importante, sobretudo á noite, quando todo seu espaço pertence a Eleiye, que são as Ajé, transformadas em pássaros do mal, como Agbibgó, Elùlú, Atioro, Osoronga, dentre outros, nos quais se transforma a Ajé-mãe, mais conhecida por Iyami Osoronga. Trazidas ao mundo pelo odu Osa Meji, as Ajé, juntamente com o odu Oyeku Meji, formam o grande perigo da noite. Eleiye voa espalmada de um lado para o outro da cidade, emitindo um eco que rasga o silêncio da noite e enche de pavor os que a ouvem ou vêem. Todas as precauções são tomadas. Se não se sabe como aplacar sua fúria ou conduzí-la dentro do que se quer, a única coisa a se fazer é afugentá-la ou esconjurá-la, ao ouvir o seu eco, dizendo Oya obe l'ori (que a faca de Iansã corte seu pescoço), ou então Fo, fo, fo (voe, voe, voe). Em caso contrário, tem-se que agradá-la, porque sua fúria é fatal. Se é num momento em que se está voando, totalmente espalmada, ou após o seu eco aterrorizador, dizemos respeitosamente A fo fagun wo'lu ( [saúdo] a que voa espalmada dentro da cidade), ou se após gritar resolver pousar em qualquer ponto alto ou numa de suas árvores prediletas, dizemos, para agradá-la Atioro bale sege sege ([saúdo] Atioro que pousa elegantemente) e assim uma série de procedimentos diante de um dos donos do firmamento à noite. Mesmo agradando-a não se pode descuidar, porque ela é fatal, mesmo em se lhe felicitando temos que nos precaver. Se nos referimos a ela ou falamos em seu nome durante o dia, até antes do sol se pôr, fazemos um X no chão, com o dedo indicador, atitude tomada diante de tudo que representa perigo. Se durante à noite corremos a mão espalmada, à altura da cabeça, de um lado para o outro, afim de evitar que ela pouse, o que significará a morte. Enfim, há uma infinidade de maneiras de proceder em tais circunstâncias. Iyami Oshorongá é o termo que designa as terríveis ajés, feiticeiras africanas, uma vez que ninguém as conhece por seus nomes. As Iyami representam o aspecto sombrio das coisas: a inveja, o ciúme, o poder pelo poder, a ambição, a fome, o caos o descontrole. No entanto, elas são capazes de realizar grandes feitos quando devidamente agradadas. Pode-se usar os ciúmes e a ambição das Iyami em favor próprio, embora não seja recomendável lidar com elas. O poder de Iyami é atribuído às mulheres velhas, mas pensa-se que, em certos casos, ele pode pertencer igualmente a moças muito jovens, que o recebem como herança de sua mãe ou uma de suas avós. Uma mulher de qualquer idade poderia também adquiri-lo, voluntariamente ou sem que o saiba, depois de um trabalho feito por alguma Iyami empenhada em fazer proselitismo. Existem também feiticeiros entre os homens, os oxô, porém seriam infinitamente menos virulentos e cruéis que as ajé (feiticeiras). Ao que se diz, ambos são capazes de matar, mas os primeiros jamais atacam membros de sua família, enquanto as segundas não hesitam em matar seus próprios filhos. As Iyami são tenazes, vingativas e atacam em segredo. Dizer seu nome em voz alta é perigoso, pois elas ouvem e se aproximam pra ver quem fala delas, trazendo sua influência. Quem realmente é Iyami Òsòròngà, será a mãe dos Orisas? "Eleye com uma boca redonda. Pássaro àtíòro que desce docemente. (Eles se reúnem para beber o sangue) voa sobre o teto da casa. (Passando da rua) colocou no mundo (Come desde a cabeça, eles estão contentes). (Come desde a cabeça, eles estão contentes) colocou no mundo (Chora como uma criança mimada). (Chora como uma criança mimada) colocou no mundo ajé. Quando ajé veio ao mundo ela colocou no mundo três filhos. Ela colocou no mundo "Vertigem" Ela colocou no mundo "Troca e sorte" Ela colocou no mundo "Esticou-se fortemente morrendo". Ela colocou no mundo estes três filhos. Assim eles não têm plumas. O pássaro akó lhes deu as plumas. Nos tempos antigos, elas dizem que elas não gratificam o mal No filho que tem o bem. Eu sou vosso filho tendo o bem, não me gratificai o mal. Vento secreto da Terra. Vento secreto do além. Sombra longa, grande pássaro que voa em todos os lugares. Noz de coco de quatro olhos, proprietária de vinte ramos. Obscuridade quarenta flechas (É difícil que o dia se torne noite). Ela se torna pássaro olongo (que) sacode a cabeça. Ela se torna pássaro untado de osùn muito vermelho. Ela se torna pássaro, se torna irmã caçula da árvore akòko. (A coroa sobe na cabeça) segredo de Ìdo. A rã se esconde em um lugar fresco. Mata sem dividir, fama da noite. Ela voa abertamente para entrar na cidade. Vai à vontade, anda à vontade, anda suavemente para entrar no mercado. (Faz as coisas de acordo com sua própria vontade). Elegante pássaro que voa no sentido invertido de barriga para cima. Ele tem o bico pontudo como a conta esuwu. Ele tem as pernas como as contas sègi. Ele come a carne das pessoas começando pela cabeça. Ele come desde o fígado até o coração. O grande caçador. Ele come desde o estômago até a vesícula biliar. Ele não dá o frango para ninguém criar, mas ele toma o carneiro para junto desta aqui." (Verger; 1992:90) O texto de Verger é hermético, simbólico, truncado e reticente impelindo-nos a adentrar na complexidade do universo afro-descendente brasileiro O sistema religioso africano-brasileiro é passado de geração a geração de forma oral, pois acreditam seus sacerdotes que a palavra verbalizada possui o poder de transmitir o Axé, força contida nos ensinamento herdados de seus ancestrais. Os sacerdotes utilizam dos oráculos de Ifá e Jogo de Búzios para conhecer os odús, signos que contêm itans: contos milenares que versam sobre a história da criação do mundo e dos Orixás - divindades que simbolizam as forças da natureza, quando da separação do mundo em Orum (mundo celeste) e Aiê (mundo material). O texto de Verger traduz alguns destes itans relativos a Iyami Òsòròngà, cuja tradução para a língua portuguesa é "Minha Mãe" Osoronga. Iyami Osoronga é proprietária de um pássaro chamado Aragamago e de uma cabaça segundo o odú Ìrété Ogbè. (Verger; 1992:80). Para os religiosos africanos e afro-descendentes, a representação mais perfeita do Universo é a Cabaça: Igbadu onde estão contidos os segredos da criação do Aiê. Odùa, Odù Lógbáje ou Iya Malé é o nome que Osoronga possui quando torna-se sua proprietária: Mãe dos Orixás. Outra máscara de Iyami é como anciã, a mulher sábia e respeitável, que pode também ser chamada de Àgbà ou Igba nla: "Aos apelos que seus filhos fizerem, ela responderá do interior da cabaça, pois ela tornou-se idosa". (Verger; 1994:67) Iyami Osoronga é um dos Orixás mais antigos, possui o poder de fecundar, fertilizar ou esterilizar conforme seu desejo. A força de Iyami é tão poderosa e aterradora que se alguém proferir seu nome deve colocar a ponta dos dedos no chão em sinal de respeito. 1.2 HIPÓTESES O silêncio que ronda o nome de Iyami Osoronga leva a supor: 1. Se Osoronga foi um mito matriarcal do período neolítico ­ época na qual o sistema familiar, conceito de posse e leis não eram definidos, então o pânico, terror e superstição existente entre os sacerdotes e devotos dos cultos africano e afro-descendentes poderiam ser resultantes do medo de um caos social. 2. Caso a devotas de Iyami Osoronga não pudessem cultuá-la abertamente, devido o sincretismo religioso católico-iorubano, então seria venerada sob os véus da Irmandade da Boa Morte, através da devoção a Nossa Senhora. 1.3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A escassez bibliográfica sobre o tema levou-nos a encontrar Iyami Osoronga sob as qualidades dos Orixás femininos retratados por Pierre Verger na Bahia e Nigéria, nos rituais nagô sobre a morte descritos por Juana Elbein, nos rituais axexê e mitos iorubanos comentados por Prandi e nos abiku, as crianças que nascem para morrer, pesquisados por Augras aprofundando- nos no Candomblé ­ percebendo-o enquanto fator de resistência política e cultural do negro - religião de origem africana estabelecida no País. Nina Rodrigues1 foi o pioneiro no estudo da questão negra no Brasil, estudou as diferentes etnias africanas e sua religião com "um olhar de fora": distanciado da comunidade africana e afro-descendente estabelecida no País. Alertados por Marco Aurélio Luz percebemos seu pensamento segregacionista-científico europeu, conseqüente de sua época: "O critério científico da inferioridade da raça negra... Para a ciência, não é esta inferioridade mais do que um fenômeno de ordem perfeitamente natural, produto da marcha desigual do desenvolvimento filogenético da humanidade". Ìrété Òwánrín Orunmilá consulta Ifá para ir a Otá e descobrir os segredos das Eleye. O babalaô pede-lhe para fazer uma oferenda. Ele faz o sacrifício e parte para a cidade das mulheres pássaro. Exú o vê, e notamos que possivelmente Exú estava sob a forma de um pássaro (o grifo é nosso): "Exu (que faz o bem e o mal, que faz todas as coisas). Exu transforma-se rapidamente, Tornou-se então uma pessoa. Ele vai chamar todas as àjé que estão em Ota." (Verger; 1992:42) E conta para as Ajé que Orunmilá possui um pássaro tão poderoso quanto o delas. As donas do pássaro estranham: "Elas dizem, este homem tem um pássaro?" (Verger; 1992:42) As Iabás foram avisadas por Exú que a divindade Orunmilá possuía um pássaro, porém elas referem-se ao Orixá como homem, ressaltando a relação de gênero. Ao se dar o confronto entre ele e as Ajé, ao verem Orunmilá sentado ­ o que indica uma falta de respeito - elas praguejam: "elas dizem que não querem retirar seus maus olhados do corpo de Orumilá. Elas dizem que lutaram com ele. Elas dizem que elas estão em cólera porque ele conhece o segredo delas. Elas dizem, eles querem assim conhecer seu segredo. Elas dizem, se elas pegam Orumilá, elas o matarão." (Verger; 1992:42) Orunmilá consulta outro babalaô, Tèmáyè, que indica-lhe um ebó4 para ficar protegido da fúria delas. As Eleye comem o ofertado e tentam novamente perseguir Orunmilá, porém não conseguem mais vê-lo. Orunmilá fala: "... àjé não é severa, ela não pode comer ekujebu, vós de modo algum, podeis matar-me. Ele diz, o frango òpìpì não tem asas para voar sobre a casa, elas não podem matar-me. Isto foi o que Òrúnmilá fez naquele dia, para que elas não sejam capazes de matá-lo, quando Òrúnmilà foi a Òtà para ver o segredo delas." (Verger; 1994:39) O ebó que Orunmilá ofereceu faz parte das proibições para as ajés. Resenha Até então grandes mitos foram levantando sobre a Iyami Òsòròngà, por falta de dados que pudessem fornecer um embasamento para sua definição, contudo sabemos que ela é um orisá o mais antigo e famoso conhecido por todas as nações africanas cultuadas dentro do Brasil. Qualquer definição que fuja deste referencial é um erro grave ao culto. Iyami Òsòròngà é se sempre foi reverenciada pelos babalawos em seus itans e culto á Odu. Yami Osoronga Iyami-Ajé - (Iyá Mi Ajé = Minha Mãe Feiticeira) também conhecida por Iyami Oxorongá - é a sacralização da figura materna, por isso seu culto é envolvido por tantos tabus. Seu grande poder se deve ao fato de guardar o segredo da criação. Identificada no jogo do merindilogun pelo odu Ôxê Tudo que é redondo remete ao ventre e, por consequência, as Iyá Mi. O poder das grandes mães é expresso entre os orixás por Oxum, Iemanjá e Nanã Buruku, mas o poder de Iyá Mi é manifesto em toda mulher, que, não por acaso, em quase todas as culturas, é considerada tabu. Iyami Ajé na forma de pássaro (Coruja Rasga-Mortalha[1] ou coruja rasgadeira) pousa nas árvores favoritas durante a noite principalmente na jaqueira (Artocarpus heterophyllus). Contam os antigos africanos que quando a coruja rasgadeira sobrevoa fazendo seu ruído característico ou aproxima-se de uma casa é porque vai morrer alguém. TÍTULOS DE ÌYÀMÌ Ìyàmì-Òsòróngà = Poderosa Mãe cultuada na Sociedade Osoronga. Ìyàmì-Ajé = Poderosa Mãe administradora do Poder Sobrenatural. Titulo em alusão quando seu culto é realizado na LUA NOVA na finalidade de utilização dos poderes sobrenaturais em defesa a uma agressividade (feitiço), ou relacionado aos projetos, ideais, envolvimentos e recolhimento de Yawo. "Por ser o ciclo mais escuro da lua". Ìyàmì-Eleye = Poderosa Mãe Proprietária dos Pássaros. Ìyàmì-Oduwà = Poderosa Mãe proprietária do recipiente da existência (o mundo). Ìyàmì-Odu = Recipiente – Útero – Cabaça – O Planeta – Ovo – Esfera existencial. Ìyàmì-Alaiye = Poderosa Mãe proprietária de toda extensão Terrestre. Ìyàmì-Ekunlaiye = Poderosa mãe que inunda a Terra com Água... Ìyàmì-Iyemonja = Poderosa Mãe senhora que possui muitos filhos como cardumes de Peixes. "Uma alusão a sua qualidade anfíbia a quantidade de ser humanos existentes na terra comparada aos peixes no Mar". (Titulo relacionado a Egun e não a Ogun como muitos erradamente afirmam ) Ìyàmì-Iyemowo = Poderosa Mãe que é o próprio dinheiro de suas filhas (búzios). "uma alusão a grande quantidade de búzios que utiliza em suas roupas" (Titulo que é cultuada no culto de Orisanlá). Ìyàmì-Omolu = Poderosa Mãe a filha sagrada de Deus. (Título que é cultuada ao lado de Obaluwaiye) Ìyàmì-Omolulu = Poderosa Mãe rainha das formigas. "Uma referencia ao fato de esta associada ao subsolo (Título que é também cultuada no culto de Obaluwaiye). Ìyàmì-Ori ou Iya-Ori = Poderosa Mãe das Cabeças. "Uma alusão ao fato de está relacionada aos rituais de sacrifício animal sobre uma cabeça". (Titulo que é também cultuada nos ritos de Bori). Ìyàmì-Buruku = Poderosa Mãe Antiga. Uma referencia ao planeta na sua antigüidade existencial. Ìyàmì-Agba = Poderosa Mãe ancestral associada ao poder feminino. Ìyàmì-Ako = Poderosa Mãe que é o pássaro Ako. Titulo referente ao 3o dia da lua cheia e a seu culto exatamente na sociedade das Geledes. Ìyàmì-Iyelala = Poderosa Mãe senhora dos sonhos. (relacionada a revelação de situações através de sonhos). Ìyàmì-Ayala = Poderosa Mãe esposa daquele que é o Céu. "Uma referencia ao fato da Terra ser coberta pelo Céu o próprio Oorisanla". -Ìyàmi Onilé = Poderosa Mãe proprietária da Terra. "Titulo referente a reverencia e aos rituais realizados dentro da terra". Outra referencia é ao fato de ser o lugar mais próprio de se cultuar toda classe de espíritos, na qual Ela é a grande apaziguadora desses espíritos ou forças rebeldes. Numa única função de tranqüilizar, apaziguar ou neutralizar qualquer tipo de força oculta agressiva. Òdu-Logboje = Cabaça Existencial no Universo. Uma referencia ao planeta Terra. Ìyàmì-N'la = Poderosa grande Mãe. Uma referencia a grandeza do planeta Terra e seu culto elementar. Titulo que plagia o titulo de Orisa'nlà. Ìyàmì-Asiwòró = Poderosa Mãe canalizadora das energias nos ritos tradicionais. Ìyàmì-Osupa = Poderosa Mãe que controla as força da lua. Ìyàmì-Petekun = Poderosa Mãe que é povoada. Uma referencia a relação com Èsu. Ìyàmì-Ako = Nome de Ìyàmì dentro da sociedade Gelede, titulo que assume o posto de primeira Dama desta sociedade. Ìyàmì- Egeleju = Poderosa Mãe dos olhos delicados. Ìyàmì-Eleje = Poderosa Mãe proprietária do fluxo da vida (sangue). Ìyàmì-Oru-Alé = Poderosa Mãe da madrugada ou Noite. Ìyàmì-Oga Igi= Poderosa Mãe que faz o alto das árvores de trono. Uma referencia ao fato dos Pássaros pousarem no cume das grandes árvores. Ìyàmì-Ilunjó = Poderosa Mãe que dança o ritmo da morte. Uma referencia ao ritmos tocado para Ogun "Aquele que dança o ritmo da morte". Ìyàmì-Elesenu = Poderosa Mãe Proprietária de todos os órgãos internos (vísceras). Ìyàmì-Apaki = Poderosa Mãe que mata. Uma referencia ao fato que no decorrer da vida acontece a morte. Ìyàmì-Naré = Poderosa que o próprio ventre. Ìyàmì-Araiye = Poderosa Mãe que controla todos os espirito da Terra (encarnados e desencarnados). Ìyàmì-Koko = Poderosa Mãe Anciã. Uma referencia a antigüidade do planeta. Ìyàmì-Kekere = Poderosa Mãe pequena do universo. Uma referencia aofato de Iyami ser a administradora da vida no planta auxiliando Olodunmare (Deus ). Ìyàmì-Olotojú = Poderosa Mãe que espia do alto. Uma referencia ao fato dos pássaros pairarem no Ar e observarem tudo de cima. Ìyàmì-Arajado = Poderosa Mãe que olha para o Céu. Uma referencia ao fato da Terra esta coberta pelo Céu. Ìyàmì-Oloriyàmi = Poderosa Mãe proprietária das águas. Uma referencia aos Mares e a água do útero. Ìyàmì-Mase malè (Abrev.: Iyamase malè) = Poderosa mãe que não permite o mal chegar na noite... Uma alusão às noites em que sobrevoa na sua forma de pássaro, nos lugares em que é invocada e reverenciada com louvores e saudações. Título este muito reverenciada nas rodas de Sango (Egungun) quando e enquanto dançam em volta da fogueira ao ar livre, fato memorável ao poder sobrenatural que possibilita Sàngó como o grande Egungun (ancestral) voltar à Terra possuindo seus Eleguns durante as festividades. ORIKI TI ÌYÁMI ÒSÒRÓNGÁ Olókiki-kàtákàta l'ekùn npa eran mã ni yan.Olú gbóhún-gbóhún ki ni Òsun ebá èjé.Osún-g' ó wo èw´`u èjé.l'pá eni tiko fe ki hun ká dùn.Ani e sìn òni kànge.Odò bara òto-lú.Omi a dake je pá eni. Omo Opaára Òga ti dâmu sese ìbà o! Ìbá Ìyámi o! N"ìmò moje ni koje ti Àroni. Èmí wa forí-bale fún sese, Olú-igbò-pé. Eleye kí ntúka ni lóke òrun. Ìyá tèmi mi ni gbá li àkókò. Enyin akoni alà molè-gbada.Èmi wá k'lyá onilè. ibà yin o. Àse! Àse! Àse! tradução. Famosa aqui e acolá, leopardo que mata o animal e continua a caminhar soberanamente. Chefe escuta, escuta, Òsun viaja no sangue, vermelho, vermelho, ela se veste com roupa de sangue, e mata a pessoa de má vontade de surpresa para que não resmungue a sua volta atormentando-a. Eu sei que ela conduz o dia de hoje e irá bater à porta. O rio agitado não é trapaceiro, ele avisa. A água calma deixa matar as pessoas . O filho de Òsun , Ògà ( o camaleão) que deixa perplexa ÌYÁMI, saudções! Saudações ìyámi! Aquela que sabe reponder o chamado de Aroni (espírito da floresta) Espírito venha curva se para ìyámi, a Dona da floresta. O passaro que se distancia no alto do céu. Minha mãe, eu a reconheço a qualquer tempo. Vós sois a pessoa forte que possui o brilho da espada. Eu vim aqui, mãe terra, saudar sua origem e disparar vossa arma. assim seja!
ÌYÁMI ÒSÒRÓNGÀ (A Senhora dos Pássaros da Noite) Quando se pronuncia o nome de Iyá-Mi Osorongá, quem estiver sentado deve-se levantar, quem estiver de pé fará uma reverência, pois se trata de temível Orixá, a quem se deve apreço e acatamento. Iyámi Osorongá é a síntese do poder feminino, claramente manifestado na possibilidade de gerar filhos e, numa noção mais ampla, de povoar o mundo. Quando os Iorubas dizem “nossas mães queridas” para se referirem às Iyá Mi, tentam, na verdade, apaziguar os poderes terríveis dessa entidade. Donas de um axé tão poderoso como o de qualquer Orixá, as Iyámi tiveram o seu culto difundido por sociedades secretas de mulheres e são as grandes homenageadas do famoso festival Gèlèdè, na Nigéria, realizado entre os meses de Março e Maio, que antecedem o início das chuvas do país, remetendo imediatamente para um culto relacionado à fertilidade. As Iyámi tornaram-se conhecidas como as senhoras dos pássaros e a sua fama de grandes feiticeiras associou-as à escuridão da noite; por isso também são chamadas Eleyé, e as corujas são os seus principais símbolos. A sua relação mais evidente é com o poder genital feminino, que é o aspecto que mais aproxima a mulher da natureza, ou seja, dos acontecimentos que fogem à explicação e ao controle humano. Toda a mulher é poderosa porque guarda um pouco da essência das Iyámi; a capacidade de gerar filhos, expressa nos órgãos genitais femininos, assustou sempre os homens. As mães são compreendidas como a origem da humanidade e o seu grande poder reside na decisão que tomar sobre a vida de seus filhos. É a mãe que decide se o filho deve ou não nascer e, quando ele nascer, ainda decide se ele deve viver. Iyámi é a sacralização da figura materna, por isso o seu culto é envolvido por tantos tabus. O seu grande poder deve-se ao fato de guardar o segredo da criação. Tudo o que é redondo remete ao ventre e, por consequência, às Iyámi. O poder das grandes mães é expresso entre os orixás por Oxum, Iemanjá e Nanã Buruku, mas o poder de Iyá-Mi é manifesto em toda a mulher, que, não por acaso, em quase todas as culturas, é considerada tabu. As denominações de Iyá-Mi expressam as suas características terríveis e mais perigosas e por essa razão os seus nomes nunca devem ser pronunciados; mas quando se disser um dos seus nomes, todos devem fazer reverencias especiais para aplacar a ira das Grandes Mães e, principalmente, para afugentar a morte. As feiticeiras mais temidas entre os Iorubas e no Candomblé são as Àjé e, para se referir a elas sem correr nenhum risco, diga apenas Eleyé, Dona do Pássaro. O aspecto mais aterrador das Iyámi e o seu principal nome, com o qual se tornou conhecida nos terreiros, é Osorongá, uma bruxa terrível que se transforma no pássaro do mesmo nome e rompe a escuridão da noite com o seu grito assustador. As Iyá-Mi são as senhoras da vida, mas o corolário fundamental da vida é a morte. Quando devidamente cultuadas, manifestam-se apenas no seu aspecto benfazejo, são o grande ventre que povoa o mundo. Não podem, porém, ser esquecidas; nesse caso lançam todo o tipo de maldição e tornam-se senhoras da morte. O lado bom de Iyá-Mi é expresso em divindades de grande fundamento, como Apaoká, a dona da jaqueira, a verdadeira mãe de Oxóssi. As Iyámi, juntamente com Exú e os ancestrais, são evocadas nos ritos de Ipadé, um complexo ritual que, entre outras coisas, ratifica a grande realidade do poder feminino na hierarquia do Candomblé, denotando que as grandes mães é que detém os segredos do culto, pois um dia, quando deixarem a vida, integrarão o corpo das Iyámi, que são, na verdade, as mulheres ancestrais. . Pássaro africano, Oxorongá emite um som onomatopáico de onde provém seu nome. É o símbolo do Orixá Iyami, ai o vemos em suas mãos. Aos seus pés, a coruja dos augúrios e presságios. Iyami Oxorongá é a dona da barriga e não há quem resista aos seus ebós fatais, sobretudo quando ela executa o Ojiji, o feitiço mais terrível. Com Iyami todo cuidado é pouco, ela exige o máximo respeito. Iyami Oxorongá, bruxa é pássaro. As ruas, os caminhos, as encruzilhadas pertencem a Esu. Nesses lugares se invoca a sua presença, fazem-se sacrifícios, arreiam-se oferendas e se lhe fazem pedidos para o bem e para o mal, sobretudo nas horas mais perigosas que são ao meio dia e à meia-noite, principalmente essa hora, porque a noite é governada pelo perigosíssimo Odu Oyeku Meji. À meia-noite ninguém deve estar na rua, principalmente em encruzilhada, mas se isso acontecer deve-se entrar em algum lugar e esperar passar os primeiros minutos. Também o vento (afefe) de que Oya ou Iansan é a dona, pode ser bom ou mau, através dele se enviam as coisas boas e ruins, sobretudo o vento ruim, que provoca a doença que o povo chama de “ar do vento”. Ofurufu, o firmamento, o ar também desempenha o seu papel importante, sobretudo á noite, quando todo seu espaço pertence a Eleiye, que são as Ajé, transformadas em pássaros do mal, como Agbibgó, Elùlú, Atioro, Osoronga, dentre outros, nos quais se transforma a Ajé-mãe, mais conhecida por Iyami Osoronga. Trazidas ao mundo pelo odu Osa Meji, as Ajé, juntamente com o odu Oyeku Meji, formam o grande perigo da noite. Eleiye voa espalmada de um lado para o outro da cidade, emitindo um eco que rasga o silêncio da noite e enche de pavor os que a ouvem ou vêem. Todas as precauções são tomadas. Se não se sabe como aplacar sua fúria ou conduzí-la dentro do que se quer, a única coisa a se fazer é afugentá-la ou esconjurá-la, ao ouvir o seu eco, dizendo Oya obe l’ori (que a faca de Iansan corte seu pescoço), ou então Fo, fo, fo (voe, voe, voe). Em caso contrário, tem-se que agradá-la, porque sua fúria é fatal. Se é num momento em que se está voando, totalmente espalmada, ou após o seu eco aterrorizador, dizemos respeitosamente A fo fagun wo’lu (saúdo a que voa espalmada dentro da cidade), ou se após gritar resolver pousar em qualquer ponto alto ou numa de suas árvores prediletas, dizemos, para agradá-la Atioro bale sege sege (saúd] Atioro que pousa elegantemente) e assim uma série de procedimentos diante de um dos donos do firmamento à noite. Mesmo agradando-a não se pode descuidar, porque ela é fatal, mesmo em se lhe felicitando temos que nos precaver. Se nos referimos a ela ou falamos em seu nome durante o dia, até antes do sol se pôr, fazemos um X no chão, com o dedo indicador, atitude tomada diante de tudo que representa perigo. Se durante à noite corremos a mão espalmada, à altura da cabeça, de um lado para o outro, afim de evitar que ela pouse, o que significará a morte. Enfim, há uma infinidade de maneiras de proceder em tais circunstâncias. Ìbà `ilè! ilè mo pè o! ìbà Ìyámi Òsòróngá! Ìyámi Òsòrónga mo pè o ! Ìgbá-odù-lógbõgba, ìbà o!Òsà-mejì, òsá- l’òyèkú àti Osá-l’òfún kí to bí Ìyámi Òsòòróngá, ìbá. Moj júbà obinrin lòde olo Gèlèdé. Ìbá Ìyámi. Òhún àgb`wi fún àgba. Wa Àgba ´ngbá. Òhún ti mò wí l’òni njé se. Òhún m’òfé kóse l’òni. Jé! Kóribê! Ni orúnko ènyin Ìyámi Òsòróngá. Oló-hun d’olà! oló-hun d’olá! Òjo l’ojúmo, b’afé fó. Aki gbé pè Òrunmìlà. Kò gbé hu àgbè. Àse