quinta-feira, 19 de maio de 2011

Lendas de Oxum


Oxum é concebida por Iemanjá e Orunmilá

Um dia Orunmilá saiu de seu palácio para dar um passeio acompanhado de todo seu séquito. Em certo ponto deparou com outro cortejo, do qual a figura principal era uma mulher muito bonita. Orunmilá ficou impressionado cm tanta beleza e mandou Exu, seu mensageiro, averiguar quer era ela. Exu apresentou-se ante a mulher com todas as reverências e falou que seu senhor, Orunmilá, gostaria de saber seu nome. Ela disse que era Iemanjá, rainha das águas e esposa de Oxalá.
Exu voltou à presença de Orunmilá e relatou tudo o que soubera da identidade da mulher. Orunmilá, então, mandou convidá-la ao seu palácio, dizendo que desejava conhecê-la. Iemanjá não atendeu o seu convite de imediato, mas um dia foi visitar Orunmilá.
Ninguém sabe ao certo o que se passou no palácio, mas o fato é que Iemanjá ficou grávida depois da visita a Orunmilá. Iemanjá deu a luz a uma linda menina. Como Iemanjá já tivera muitos filhos com seu marido, Orunmilá enviou Exu para comprovar se a criança era mesmo filha dele. Ele devia procurar sinais no corpo. Se a menina apresentasse alguma marca, mancha ou caroço na cabeça seria filha de Orunmilá e deveria ser levada para viver com ele.
Assim foi atestado, pelas marcas de nascença, que a criança mais nova de Iemanjá era de Orunmilá. Foi criada pelo pai, que satisfazia todos os seus caprichos.
Por isso cresceu cheia de vontades e vaidades, o nome dessa filha é Oxum.


(2)
Oxum exige a filha do rei em sacrifício

Certa vez, o rei de Oloú, precisava atravessar o rio onde vivia Oxum, o rio naquele dia se encontrava enfurecido e os exércitos do rei não podiam passar pelas traiçoeiras correntezas.
Oloú fez um pacto com Oxum para que baixasse o nível das águas, em troca lhe oferecia um bela prenda, Oxum entendeu que Oloú estava prometendo Prenda Bela.
Prenda Bela era o nome da mulher de Oloú, filha dileta do rei de Ibadã. Oxum baixou o nível das águas e Oloú passou com seu exército. Oloú jogou no rio a bela prenda: uma grande oferenda com as melhores comidas e bebidas, os mais finos tecidos, jóias luxuosas e raros perfumes, correntes de ouro puro, banhos preciosos.
Tudo foi devolvido para as areias das margens de Oxum, Oxum só queria Prenda Bela, a princesa. Tempos depois, Oloú retornou vitorioso de sua expedição e, ao chegar ao rio, este novamente estava turbulento, o rei ofereceu de novo o mesmo que ofertara antes: uma bela prenda com as melhores comidas e bebidas os mais finos tecidos, jóias luxuosas e raros perfumes, correntes de ouro puro, banhos preciosos.
Oxum recusou o oferecido, tudo foi devolvido à praia, intocado, ela queria Prenda Bela, a esposa de Oloú, que estava grávida, contrariado, mas sem ter outra saída, Oloú lançou ao rio sua indefesa e grávida consorte, ao ser lançada às águas revoltas, Prenda Bela deu à luz uma criança, Oxum devolveu a criança; era somente Prenda Bela que ela queria.
Oloú seguiu seu caminho, retornando muito triste a seu reino, o rei Ibadã logo foi informado do fim trágico da filha, declarou guerra a Oloú, venceu-o e o expulsou para sempre do país.


(3)
Oxum Apará tem inveja de Oyá

Vivia Oxum no palácio em Ijimu, passava os dias no seu quarto olhando seus espelhos, eram conchas polidas onde apreciava sua imagem bela.
Um dia saiu Oxum do quarto e deixou a porta aberta, sua irmã Oyá entrou no aposento, extasiou-se com aquele mundo de espelhos, viu-se neles.
As conchas fizeram espantosa revelação a Oyá, ela era linda! A mais bela! A mais bonita de todas as mulheres! Oyá descobriu sua beleza nos espelhos de Oxum, Oyá se encantou, mas também se assustou: era ela mais bonita que Oxum, a Bela.
Tão feliz ficou que contou do seu achado a todo mundo, e Oxum Apará remoeu amarga inveja, já não era a mais bonita das mulheres, vingou-se.
Um dia foi à casa de Egungun e lhe roubou o espelho, o espelho que só mostra a morte, a imagem horrível de tudo o que é feio, pôs o espelho do Espectro no quarto de Oyá e esperou, Oyá entrou no quarto, deu-se conta do objecto, Oxum trancou Oyá pelo lado de fora, Oyá olhou no espelho e se desesperou.
Tentou fugir, impossível, estava presa com sua terrível imagem, correu pelo quarto em desespero, atirou-se no chão, bateu a cabeça nas paredes, não logrou escapar nem do quarto nem da visão tenebrosa da feiura. Oyá enlouqueceu, Oyá deixou este mundo.
Obatalá, que a tudo assistia, repreendeu Apará e transformou Oyá em orixá. Decidiu que a imagem de Oyá nunca seria esquecida por Oxum. Obatalá condenou Apará a se vestir para sempre com as cores usadas por Oyá, levando nas jóias e nas armas de guerreira o mesmo metal empregado pela irmã.

Notas bibliográficas
Mitologia dos Orixás – Reginaldo Prandi – 2001

Dicionário

- A -

Adó = comida feita com pipocas em grão e epô.
Abá = pessoa idosa, velho.
Abadá = blusão usado pelos homens africanos.
Abadó = milho de galinha.
Abará = nome de uma comida de origem africana.
Abébé = leque.
Abiodum = um dos Obá da direita de Xangô.
Adê = coroa.
Adetá = Oriki, nome sacerdotal.
Adun = comida de Oxun, milho pilado, azeite dendê e mel.
Afonjá = uma qualidade de Xangô.
Agboulá = nome de um Egun.
Agôgô = instrumento musical feito de ferro.
Ayabá = orixá feminino, senhora idosa.
Aiê = o mundo terrestre.
Airá = uma qualidade de Xangô.
Ajá = campainha, sino.
Ajimudá = título sacerdotal.
Akôrô = uma das invocações e dos nomes de Ogun.
Aku = obrigação funerária.
akukó = galo.
Alá = espécie de pano branco.
Alabá = nome de um sacerdote do culto aos ancestrais.
Alabê = tocadores de atabaque.
Alafiá = felicidade; tudo de bom.
Alafin = invocação de Xangô: nome do rei de Oió – Nigéria.
Alapini = nome sacerdotal do culto aos ancestrais.
Alasê = cozinheira.
Alé = noite.
Apaoká = uma jaqueira que tem esse nome no Axé Opô Afonjá.
Aramefá = conselho de Oxossi, composto de seis pessoas.
Aré = nome do primeiro Obá de Xangô.
Ararekolê = como vai?
Aressá = um dos Obá da esquerda de Xangô.
Ariaxé = banho na fonte no início das obrigações.
Arô = nome que se dá ao par de chifres de boi usado p/ chamar Oxossi.
Arôlu = nome de um dos Obá da direita de Xangô.
Assobá = sumo sacerdote do culto de Obaluaiyê.
Ati = e (conjunção).
Atori = vara pequena usada no culto de Oxalá.
Auá = nós.
Anon = eles.
Axedá = oriki, nome sacerdotal.
Axo = roupa.
Axogun = o encarregado dos sacrifícios.
A-ian-madê = como vão os meninos?
Adupé-lewô-olorun = graças a Deus por ter conservado minha vida e a minha saúde até hoje.
Alabaxé = o que põe e dispões de tudo.
Alayê = possuidor da vida.
Axé = força espiritual e também a palavra amém.
Ayê = céu.
Agô = licença.
Am-nó = o misericordioso.
Aba-laxé-di = cerimônia da feitura do santo.
Axexê = cerimônia fúnebre do sétimo dia.
Amadossi d’Orixá = cerimônia do dia do santo dar o nome.
Amacy no ori = cerimônia de lavar a cabeça com ervas sagradas.
Aiê = terra, festa do ano novo.
Ataré = pimenta da costa.
Amalá = comida feita de quiabo com ebá – angú de farinha.
Abará = bolo feito com feijão e frito no epô.
Akará = bolo feito com feijão fradinho, pimenta, camarão seco e frito no epô.
Akarajé = o mesmo que o Akará.
Afurá = bolo feito com arroz.
Ambrozó = feito de farinha de milho.
Abân = coco.
Ajé = sangue.
Ajeun = comida.
Aguxó = espécie de legumes.

- B -

Babá = pai.
Babalaô = sacerdote, pai do ministério, aquele que faz consultas através do jogo.
Badá = título sacerdotal.
Baiani = orixá considerada mãe de Xangô.
Balé = chefe de comunidade.
Balué = Banheiro.
Bamboxê = sacerdote do culto de Xangô.
Bé = pular, pedir.
Beji = orixá dos gêmeos.
Bi = nascer, perguntar.
Bibá = está aceito.
Bibé = está seco.
Biuá = nasceu para nós.
Biyi = nasceu aqui, agora.
Bó = adorar
Bô = cobrir.
Bobô = todos.
Bodê = estar fora.
Bóri = oferenda à cabeça.
Borogun = Oriki, aquele que adora Ogun, saudação da família.

- D -

Dagan = título sacerdotal.
Dagô = dê licença.
Dê = chegar.
Deiyi = chegou agora.
Dodô = banana da terra frita.
Durô = esperar.

- E -

Ebá = pirão de farinha de mandioca ou inhame.
Ebé = sociedade.
Ebô = comida feita de milho branco, especial para Oxalá.
Ebo = sacrifício ou oferenda.
Edun = nome próprio.
Egun = espírito ancestral.
Eie = pombo.
Ejé = sangue.
Ejilaeborá = nome que se dá às doze qualidades de Xangô.
Ejionilé = nome de um Odu, jogo do orixá ifá.
Ekó = comida feita com milho branco ou de galinha; acaça.
Eku = preá.
Elebó = aquele que faz o sacrifício.
Eledá = orixá, guia, criador da pessoa.
Elemaxó = título de um sacerdote no culto de Oxalá.
Elerin = um dos Obá da esquerda de Xangô.
Elessé = que está aos pés, seguidor.
Êpa = amendoim.
Éran = carne.
Êrê = as esculturas do orixá beji (dos gêmeos).
Eru = carrego.
Erúkéré = emblema feito com cabelo de animais, usado por Oxossi, Oyá, Egun e pessoas importantes do culto.
Etu = conquém.
Euá = nome de um orixá.
Exu = nome de um importante orixá erroneamente associado ao diabo católico.

- F -

Fatumbi = título de um sacerdote de ifá.
Filá = gorro.
Fun = dar.
Funké = nome sarcedotal.

- G -

Gan = outro nome do agogô.

- I -

Iangui = nome do rei dos Exu.
Ianlé = as partes da comida que são oferecidas ao orixá.
Iansan = orixá patrono dos ventos, do rio Niger e dos relâmpagos.
Ibá = cuia.
Ibi = aqui.
ibiri = objeto de mão, usado pela orixá Nanã, feito em palha, couro e contas.
Ibó = lugar de adoração.
Ibô = mato.
Iemanjá = orixá patrono das águas correntes.
Ijexá = nome de uma região da Nigéria e de um toque para orixá Oxum, Oxála e Ogun.
Iká = modo de deitar-se das pessoas de orixá feminino, para saudação.
Iku = morte.
Ilê = casa.
Ilé = terra.
Inã = fogo.
Ipeté = inhame cozido, pisado, temperado com camarão seco, sal, azeite de dendê e cebola.
Irê = bondade.
Iuindejà = título sacerdotal.
Iuintonã = título sacerdotal.
Ixu = inhame.
Iyá = mãe.
Iyabasé = cozinheira.
Iyalaxé = mãe do axé do terreiro.
Iyalodé = um alto título, líder entre as mulheres.
Iyalorixá = Zeladora do culto, mãe do orixá.
Iyamasê = orixá da casa de Xangô.
Iyamorô = título de uma sacerdotisa do templo de Obaluaiyê.
Iyaô = nome dos iniciados antes de sete anos de iniciação.

- J -

Ji = despertar
Jinsi = título sacerdotal.
Jô = dançar.
Jobi = título sacerdotal.
Joé = aquele que possui título.

- K -

Kaiodé = nome de uma sacerdotisa de Oxossi.
Kan = um (número cardinal).
Kankanfô = um dos obá da direita de Xangô.
Kefá = sexto número ordinal.
Kejilá = décimo segundo (numero ordinal).
Kekerê = pequeno.
Ketà = terceiro (nº. ordinal).
Kolabá = nome de uma sacerdotisa do culto de Xangô.
Kopanijê = um toque especial do orixá Obaluaiyê.
Koxerê = que seja feliz, e que tudo de bom aconteça.
Labá = bolsa de couro usada no culto de Xangô.

- L -

Lara = no corpo.
Lê = forte.
Lessé = aos pés (lessé orixá – seguidores do orixá).
Ló = ir.
Lodê = lado de fora; lá fora.
Lodô = no rio.
Logun = pessoa que pertença ao orixá Ogun.
Logunedé = nome de um orixá.
Loná = no caminho.

- M -

Mariô = tala do olho do dendezeiro desfiada.
Modê = cheguei.
Mogbá = título de um sacerdote do culto de Xangô.
Mojubá = apresentando meu humilde respeito.

- N -

Nanã = nome da orixá, mãe de Obaluaiyê.
Nilê = na casa.

- O -

Obá = rei , ministro de xangô.
Obaluaiyê = nome do orixá patrono das doenças epidêmicas.
Obarayi = nome de uma sacerdotisa filha de Xangô.
Obatalá = uma qualidade de Oxalá.
Obatelá = nome de um dos obá da direita de Xangô.
Obaxorun = nome de um dos obá da esquerda de Xangô.
Obi = fruto africano utilizado nos rítuais.
Obitikô = Xangô.
Oburô = alto título da hierarquia do culto.
Odê = fora, rua.
Odé = caçador; nome que também é dado ao orixá Oxossi.
Odi = nome de um odu, jogo de ifá.
Odô = rio.
Odófin = nome de um dos obá da direita de Xango.
Odu = a posição em que caem os búzios ou o opelé ifá quando consultados.
Oduduá = orixá criador da terra.
Ofun = nome de um odu.
Ogã ou Ogan = nome dos homens escolhidos p/ participar do terreiro.
Ogodô = uma qualidade de Xangô.
Oguê = instrumento de percussão feito de chifres de boi.
Ogun = orixá patrono do ferro, do desbravamento e da guerra.
Oin = mel.
Oiakebê = nome de uma sacerdotisa de Iansan.
Ojá = ornamento feito com tira de pano.
Ojé = sacerdote do culto de Egun ou Egungun.
Ojó = dia da semana.
Oju = rosto.
Ojubó = lugar de adoração.
Oké = título sacerdotal.
Okê-Arô = saudação para Oxossi.
Okó = marido.
Okô = roça, fazenda.
Okunlé = ajoelhar-se.
Olelé = bolo feito com feijão fradinho; abará.
Olodê = o senhor da rua, do espaço, de fora.
Olorôgun = festa de encerramento do terreiro antes da quaresma.
Olorum = entidade suprema, força maior, que está acima de todos os orixás.
Olouô = homem rico; senhor do dinheiro.
Oluá = senhor.
Oluayê = senhor do mundo
Olubajé = cerimônia onde Obaluaiyê reparte sua comida com seus filhos e seguidores.
Olukotun = o nome do ancestral mais velho, cabe? ¦ça do culto de Egun.
Oluô = o olhador, o que joga os búzios e o opelé ifá.
Omi = água.
Omo = filho, criança.
Omolu = um dos nomme de Obaluaiyê.
Omõrixá = filho de orixá.
Onã = caminho.
Onãsokun = um dos obá da esquerda de Xangô.
Onìkòyi = um dos obá da esquerda de Xangô.
Onilé = dona da terra.
Onilê = dona da casa.
Opaxorô = emblema de Oxalá.
Opô = pilastra.
Ori = cabeça.
Orô = preceito, costume tradicional.
Orobô = fruta africana que se oferece à Xangô.
Orukó = nome próprio.
Ossãin = orixá patrono das ervas (folhas).
Osé = semana; rito semanal.
Ossi = esquerda, ou a terceira pessoa de um cargo.
Ossá = nome de um odu ifá
Otin = aguardente.
Otun = direita, ou segunda pessoa de um cargo.
Ouô = dinheiro.
Oxaguiã = uma qualidade de Oxalá relacionado com o inhame novo.
Oxalá = o mais respeitado, o pai de todos orixás.
Oxalufã = uma qualidade de Oxalá; Oxalá velho.
Oxé = sabão da costa africana.
Oxossi = orixá patrono da floresta e da caça.
Oxoxö = milho cozido com pedaços de coco; comida do orixá Ogun.
Oxum = uma das orixá das águas.
Oxumarê = nome do orixá relacionado ao arco-íris.

- P -

Pá = matar.
Padê = encontrar.
Pê = chamar.
Peji = altar.
Pelebé = pato.
Pepelê = banco.
Peté = Comida exclusiva de Oxun.

- S -

Sarapebé = mensageiro.
Si = para.
Sòrò = falar.
Sun = dormir.

- T -

Tanã = vela, lâmpada, fifo.
Teni = nome sacerdotal.
Tô = suficiente, basta.

- U -

Uá = vir.
Umbó = está vindo, está chegando.
Unjé = comida.
Uô = olhar, reparar.

- X -

Xaorô = pequenos guizos
Xarará = emblema do orixá Obaluaiyê.
Xê = fazer.
Xekeré = cabaça revestida com contas de Santa Maria ou búzios.
Xerê = chocalho especial para saudar Xangô, em cabaça com cabo ou em cobre.
Xirê = festa, brincadeira.
Xokotô = calças.
Xorô = fazer ritual.

Seguem agora algumas palavras e expressões, derivadas do yoruba e de outras influências linguísticas, igualmente de origem africana, mas provenientes de outras nações e que já sofreram entretanto alteração e adaptação fonética por força do português. No entanto, estas palavras e expressões são utilizadas correntemente no dia a dia das casas de santo. Isto para explicar porque algumas letras que não se encontram acima, se encontram abaixo, pois letras como o C não fazem parte da língua Yoruba.


A

Abadá – Blusão usado pelos homens africanos.
Abadô – Milho torrado
Abebé – Leque.
Abassa – Salão onde se realizam as cerimônias públicas do camdomblé, barracão.
Adé – Coroa.
Adie – Galinha.
Adupé = Dupé – Obrigado.
Afonja – É uma qualidade de Xangô.
Agbô – Carneiro.
Aguntam – Ovelha.
Ajeum – Comida.
Alabá – Título do sacerdote supremo no culto aos eguns.
Aledá – Porco.
Alaruê – Briga.
Alubaça – Cebola.
Axó – Roupa.
Axogum – Auxiliar do terreiro, geralmente importante na hierarquia da casa, encarregado de sacrificar os animais que fazem parte das oferendas aos orixás.

B

Baba – Pai.
Babaojê – Sacerdote do culto dos eguns; Ojé é o nome de todos iniciados no culto aos eguns.
Babassá – Irmão gêmeo.
Balê – Casa dos mortos.
Balé – Chefe de comunidade.
Beji – Orixá dos gêmeos.
Biyi – Nasceu aqui, agora.
Bô – Adorar.

C

Conguém – Galinha da Angola.
Cambaú – Cama.
Cafofo – Túmulo.
Caô – É um tipo de Xangô.
Catular – Cortar o cabelo com tesoura, preparando para o ritual de raspagem para iniciação no Candomblé.
Cutilagem – É o corte que se faz na cabeça do iniciado; é realizado para abrir o canal energético principal que o ser humano tem no corpo, exatamente no topo da cabeça,(no Ori), por onde vibra o axé dos Orixás para o interior de uma pessoa.

D

Dã – Orixá das correntes oriundas do Daomé.
Dara – Bom, agradável.
Dide – Levantar.
Dagô – Dê licança.
Dê – Chegar.
Dudu – Preto.

E

Edu – Carvão.
Eiyele – Pombo.
Elebó – Aquele que está de obrigação.
Eledá – Orixá guia.
Erú – Carrego; carga.
Equê – Mentira.
Esan – Vingança.
Emi – Vida
Enu – Boca
Eran – Carne
Ejó – Cobra.
Egun – Alma, espírito.
Epô – Azeite
Epô-pupa –
Azeite de dendê
Eró – Segredo

F

Fá – Raspar
Fadaka – Prata
Filá – Gorro
Funfun – Branco
Fenukó – Beijar
Ferese – janela
Fo – Lavar
Fún – Dar
Farí – Raspar cabeça.

G

Ga – Alta, grande
Ge – Cortar
Gari – Farinha
Gururu – Pipoca

I

Ia – Mãe
Ia ia – Avó
Ialorixá – Mãe de santo (sacerdote de orixá)
Iban – Queixo
Idí – Ânus, nádega
Ibô – Mato
Ibó – Lugar de adoração
Ilê – Casa
Ibá – Colar, cheio de objetos ritualístico
Inã – Fogo
Ijexá – Nome de uma região da Nigéria e de um toque para os Orixás Oxum, Ogum e Oxala.
Ipadê – Reunião
Ida – Espada
Ida-oba – Espada do Rei
Ideruba – Fantasma
Idodo – Umbigo
Ifun – Intestino
Idunnu – Felicidade
Igi – Árvore
Ijo – Dança
Iku – Morte
Iyabasé – Cozinheira
Iyalaxé – Mãe do axé do terreiro

J

Jajá – Esteira
Jalè – Roubar
Ji – Acordar, roubar
Jeun – Comer
Jimi – Acorda-me
Joko – Sentar
Jade – Sair
Jagunjagun – Guerreiro, Soldado

K

Kà – Ler, contar
Kan – Azedo
Kekerê – Pequeno
Koró – Fel, amargo
Kòtò – Buraco
Kuru – Longe
Ko Dara – Ruim
Ku – Morrer
Kosi – Nada

L

Là – Abrir
Lê – Forte
Lile – Feroz, violento
Liló – Partir
Larin – Moderado
Ló – Ir
Lailai – Para sempre
Lowo – Rico
Lu – Furar
Lodê – Lado de fora, lá fora
Lodo – No rio
Lona – No caminho

M

Malu – Boi
Meje – Sete
Mun – Beber
Muló – Levar embora
Mojubá – Apresentando meu humilde respeito
Mo – Eu
Mí – Viver
Mejeji – Duas vezes
Mandinga – Feitiço
Maleme – Pedido de perdão
Mi-amiami – Farofa oferecida para exu
Modê – Cheguei

N

Ná – Gastar
Ní – Ter
Níbi – No lugar
Nítorí – Por que
Nu – Sumir
Najé – Prato feito com argila
Nipa – Sobre
Nipon – Grosso.

O

Obé – Faca
Obé fari – Navalha
Oberó – Alguidar
Obirim – Mulher, feminino
Ojiji – Sombra
Oju ona – Olho da rua, ( caminho )
Okó – Pênis
Omi – Água
Omi Dudu – Café preto
Otí – Álcool
Owo – Dinheiro
Oyin – Mel
Obá – Rei
Odé – Caçador
Orun – Céu
Ofá – Arco e flecha
Olorum – Deus
Ota e Okuta – Pedra
Odo – Rio
Obo – Vagina
Otin nibé – Cerveja
Otin Dudu – Vinho tinto
Otin fum-fum – Aguardente
Odê – Fora, rua
Olodê – Senhor da rua
Omo – filho, criança.
Ongé – Comida

P

Pá – Matar
Pada – Voltar
Padê – Encontrar
Paeja – Pescar
Peji – Altar
Pelebi – Pato
Pupa – Vermelho
Paki – Sala
Patapá – Burro
Pepelê – Banco

R

Rà – Comprar
Rere – Muito bem
Re – Ir
Rìn – Trabalhar
Rí – Ver
Ronu – Pensar
Roboto – Redondo

S

Sanro – Gordo
Sare – Rápido, correr
Sínun – Dentro
Sise – Trabalho
Sun – Dormir
Sarapebé – Mensageiro
Sòrò – Falar
Si Ori – Abrir a Cabeça

T

Tata – Gafanhoto
Tèmi – Meu, minha
Toto – Atenção
Titun – Novo
Tóbi – Grande, maior
Tàbá – Tabaco, fumo
Tete – Aplicado
Tanã – Vela, lâmpada
Tún – Retorno
Taya – Esposa
Tutu – Frio, gelado

W

Wa – Nosso
Wèrè – Louco
Wúrà – Ouro
Wu – Desenterrar
Wun ni – Gostar
Wakati – Hora
Wara – Leite

X

Xaorô – Tornozeleira de palha da costa usada durante o recolhimento para o processo de iniciação.
Xarará – Instrumento simbólico do Orixá Obaluaiyê
Xê – Fazer
Xirê – Festa, brincadeira

Y

Yàgó – Licença
Yan – Torrar
Yaro – Ficar aleijado
Yiyan – Assado
Yonrin – Areia
Yama – Oeste
Yara-ypejo – Sala


Fonte: http://ocandomble.wordpress.com/vocabulario-ketu/

quarta-feira, 18 de maio de 2011

ÀBÍKÚ. Nascemos para Morrer


Àbíkú - a palavra já diz tudo:

A = Nós; Bi = Nascer; Ku = Morrer

[Nós nascemos para morrer]


No Orun; um mundo paralelo que nos rodeia, onde vivem Deuses e Antepassados, palavra facilmente traduzível por Céu; mora um grupo de crianças chamado Egbe Orun Abiku - as crianças que nascem para morrer em curto espaço de tempo, gerando grande sofrimento para as suas famílias. As meninas são chefiadas por Oloiko [chefe de grupo] e os meninos por Ìyájanjasa [a mãe que bate e corre].


A permanência dos Abiku ou Emere é condicionada a um pacto que fazem na vinda do Orun para o Aiye [a Terra] com Onibode Orun, o porteiro do Céu. Este pacto é cumprido rigorosamente pelos Abiku, uma criança cujo acordo foi não nascer, realmente não nascerá; outra que combine voltar quando romper seu primeiro dente, terá morte súbita, por acidente ou por doença, horas ou dias após o aparecimento deste dente. Quando uma criança Abiku nasce, seu par, aquele seu companheiro mais chegado no Orun, começará a interferir em sua vida, atormentando-a, aparecendo-lhe em sonhos, a fim de que não se esqueça de seus amigos do Orun e rapidamente volte para eles, assim que houver cumprido o seu pacto.


Várias histórias de Abiku nos são relatadas nos Itan Ifá, pelos odú Odi, Obara, Ejiogbe, Irete-Irosun, Otura-Rete, Iwori-Wosa entre outros [Tradição oral].


IWORI-WOSA


O dia que uma criança dá o aviso que vai se suicidar

Não se pode permitir que sua intenção se concretize

Ifá foi consultado para Matanmi (não me engane)

Que estava vindo do Céu para a Terra

Ele foi avisado que deveria fazer sacrifício

O que devemos sacrificar para não sermos enganados pela Morte?

Carneiro

O que devemos sacrificar para não sermos enganados pela Doença?

Carneiro



EJIOGBE


O olho da agulha não goteja pus

No banheiro não se põe uma canoa a navegar

Ifá foi consultado para Òrúnmìlà

Quando ele fazia um pacto com Emere (Àbíkú)

Um pacto fora feito com Emere (Àbíkú)

Ele não iria morrer logo na flor da idade

O caso do Emere (Àbíkú) agora fica seguro com Ifá



A primeira vez que os Àbíkú vieram para a Terra foi em Awaiye, rei de Awaiye, num grupo de duzentos e oitenta, trazidos por Alawaiye, rei de Awaiye e chefe deles no Òrun. Na vinda para a Terra, todos pararam no portal do Céu e vários pactos foram feitos. Eles voltariam ao Òrun quando:

- Vissem pela primeira vez o rosto de sua mãe;

- Casassem;

- Completassem 7 dias de vida;

- Tivessem novo irmão;

- Construíssem uma casa;

- Começassem a andar.


E nenhum queria aceitar o amor de seus pais, e os presentes e mimos seriam insuficientes para retê-los na Terra, e talvez alguns absolutamente não nascessem. Esta primeira leva de crianças Àbíkú combinaram entre si também roupas, rituais, chapéus e turbantes, tingidos de òsun que teriam valor simbólico de 1.400 búzios e que, se seus pais adivinhassem estas roupas e dessem-nas como oferendas, poderiam segurá-las na Terra. As roupas seriam colocadas penduradas nas árvores do Bosque Sagrado dos Àbíkú, em Awaiye, e seus pais fariam anualmente uma festa, com tambores e cantigas, para alegrar os Àbíkú, que seriam untados com òsun, e não voltariam mais ao Òrun, rompendo assim o pacto feito, e seu vínculo com o Egbe Òrun Àbíkú.


Outras histórias são contadas por Òrúnmìlà sobre crianças que, depois de várias idas e vindas entre o Céu e a Terra, puderam ser conservadas vivas, devido a seus pais terem consultado Ifá e feito os Ebo determinados por Òrúnmìlà, trocando ou acrescentando um nome que os desanimassem de morrer novamente, usando folhas sagradas em fricções nos seus corpinhos, para afastar os outros companheiros Àbíkú, colocando em seus tornozelos Sawoor, fazendo em seus corpos pequenas incisões, e através delas inserindo pó preto e mágico de uma mistura de folhas, e com este mesmo pó enchendo um amuleto de couro em forma de pequeno saco, chamado Óndè que seria preso à cintura da criança.


Alguns Àbíkú também deveriam colocar em seus tornozelos pesadas argolas e correntes que não os deixariam fugir para o Òrun. As oferendas eram feitas como recomendavam os Itan Ifá - troncos de bananeira, cabras, galos, pombos, roupas e chapéus tingidos com òsun, alimentos, guizos, búzios, doces, bebidas, a serem entregues no Bosque Sagrado, ou enterrados à margem de um rio, ou soltas nas águas. Estes Ebo possibilitariam aos pais reter seus filhos na Terra, e eles não morreriam mais. Porém, se apesar das oferendas, os chefes das Comunidades Àbíkú, Oloiko e Iyajanjasa insistissem em vir à Terra em busca de suas crianças, e conseguissem levá-las de volta ao Òrun, os pais deveriam marcar seus corpos com cortes, ou mesmo mutilá-los ou queimá-los, para que seus pares no Òrun não os reconhecessem ou aceitassem de volta. Também pelas marcas seriam reconhecidas quando voltassem à Terra e não quereriam mais nascer.


Nas terras de ancestralidade Yorùbá, uma mãe que perde vários filhos antes ou depois do nascimento, por morte brusca, súbita ou inexplicável, procura um Bàbáláwo e descobre estar dando a luz a uma criança Àbíkú, que pode nascer e morrer inúmeras vezes impedindo-a também de ter filhos normais. O Bàbáláwo indica a necessidade de Ebo, o uso de folhas, procedimentos estes usados para afastar o Àbíkú, se os filhos da mulher estiverem mortos, e para

que ela possa gerar crianças perfeitas. Ou para reter a criança na Terra e romper seu vínculo com o Òrun, mantendo-a viva. Até que a criança complete nove anos, sempre próximo à data do seu aniversário, determinadas oferendas serão feitas e depois repetidas até o Àbíkú completar dezenove anos. A criança deverá usar roupas especiais, com enfeites e cores específicas, seu nome deve ser mudado ou a ele acrescentado outro, que desestimule sua volta ao Òrun.


Guizos em quantidade devem ser presos a seus brinquedos, roupas, tornozelos, pulso, pois o som dos guizos faz bem ao Àbíkú e afasta os amigos do Céu. A fava Éerù, no Brasil chamada Bejerekun, deve ser usada em banhos e chás, pacificando a criança, Efun também pode ser utilizado para acalmá-la. As folhas são usadas em fricções ou banhos, e com elas é feita a mistura mágica com a qual se protege a criança e se prepara o amuleto, que o Àbíkú carregará por toda a sua vida. O corpo da mãe também deve ser defendido e esfregado com folhas, para que ela não atraia uma nova criança Àbíkú. Se a mãe tiver também problemas com Egbe, chamada Eleeriko, uma deusa considerada o feminino de Egungun, que atormenta as crianças, marcando-lhes o corpo durante a noite, ela será avisada de que deve zelar por Egbe, entregando-lhe cabaças com oferendas no rio, e louvando-a a cada quinto dia.


Também um altar com símbolos religiosos poderá ser instalado na casa, e anualmente serão feitas festas com sacrifícios de animais, tambores e dança.

Nem toda criança Àbíkú é atormentada por Egbe que também pode dar filhos às mães que a louvam. Há alguns Orìkí de Egbe que demonstram bem esta ligação.

Este que damos a seguir é de Ibadan, e é uma súplica para que Egbe envie crianças sadias que não sejam Àbíkú ou Emere.


Mãe, proteja-me, eu irei ao rio

Não permita Emere seguir-me em casa

Mãe proteja-me, eu irei ao rio

Não permita que uma criança amaldiçoada siga-me em casa

Mãe proteja-me, eu irei ao rio

Não permita que uma criança estúpida siga-me em casa

Olugbon morrei e deixou filhos atrás dele

Arega morreu e deixou filhos atrás dele

Olukoyi morreu e deixou filhos atrás dele

Eu não poderei morrer sem deixar filhos atrás de mim

Eu não poderei morrer de mãos vazias, sem descendentes [1].



No Brasil, porém, o termo Àbíkú, dito "Abikum" tem significado totalmente diverso. A mãe que entra grávida para o processo de iniciação, dá a luz à uma criança que já nasce "feita pronta", sem necessidade da tonsura ritual.

Quando esta criança completa sete anos, sacrifícios são feitos para seu Òrìsà, sua cabeça é recoberta por uma cabaça antes que o sangue seja derramado, pois sobre a cabeça de uma criança "Abikum" o sangue não deve correr. Esta criança nunca estará sujeita a um transe de possessão por um Òrìsà, a ela estarão vetadas a maioria dos cargos dentro da hierarquia sacerdotal brasileira. Ao mesmo tempo, ela já nasce com um posto honorífico, o de "feita sem ter sido raspada", e é tido com certo que nenhum mal físico ou espiritual poderá atingi-la.


Dizem também alguns sacerdotes que as crianças que nascem em datas determinadas são "Abikum". E, sendo assim, pais e mães ambiciosos, programam seus filhos para que nasçam nestes dias, e até mesmo operações cesarianas são realizadas, para adequar a chegada ao mundo das crianças às datas de nascimento apropriadas para "Abikum". O modo de encarar a pessoa "Abikum" muda de casa para casa, podendo ser acrescentados ou eliminados detalhes dessa explanação.


Os pais e mães de Òrìsà brasileiros deveriam reavaliar seu conceito sobre crianças Àbíkú, uma vez que estes nascimentos ocorrem não só na terra Yorùbá, elas nascem em todo o mundo e no Brasil também. É imperioso também que se instruam sobre todo o ritual sacro a ser realizado dentro da problemática Àbíkú.


Vários povos ao redor do Golfo de Guinéa tem a mesma crença nos Àbíkú, embora dêem à eles nomes diferentes. Os Nupe chamam-nos de Kuchi ou Gaya-Kpeama. Entre os Ibo, são chamados Ogbanje ou Eze-Nwanyi ou Agwu ou ainda Iyi-Uwa Ogbanje. Já os Haussa chamam-nos Danwabi ou kyauta. Os Akan denominam a mãe de um Àbíkú Awomawu e entre os Fanti são conhecidos por Kossamah.


Famílias que já perderam um ou mais filhos, tendem a buscar na religião um consolo e uma explicação para estas mortes, e é dever da Tradição de Òrìsà e do Candomblé Ketu, estar apta para oferecer, além de um amparo religioso que diminua o sofrimento dos pais, uma solução para que tal tragédia não mais ocorra. Temos muita pouca literatura em português sobre o assunto, talvez apenas a tradução de um excelente artigo de Pierre Verger, publicado em 1983 na Revistas Afro-Asia no 14, com uma explanação ampla sobre Itan Ifá, OrukoÀbíkú, folhas e Ofo do qual farei citações literais mais adiante.

Outros autores africanos, franceses e ingleses falam sobre o assunto, em considerações superficiais ou profundas, mas suas publicações não estão disponíveis para a quase totalidade do sacerdócio brasileiro. O fato de não possuirmos no Brasil local determinado, como a Floresta Àbíkú de Awaiye, não nos impede de sacralizar parte de um bosque para receber as oferendas das

famílias das crianças Àbíkú.


Tomando por base as recomendações do Itan Ifá, um Ebo poderá ser montado com um pedaço de tronco de bananeira, roupas e gorros tingidos de òsun e bordados de guizos e búzios, pratos com comidas [Iyan; Akara; Ekuru; Eko; Doces; Canjica; Frutas; Mel; Guizos; Bebidas; Animais; Cabra; Pombo; Galo; Folhas]. As roupas serão colocadas nos galhos da árvores, as comidas e oferendas ao redor no chão, ou monta-se um carrego como para a morte, embrulhado em pano branco, que será enterrado ou solto nas águas de um rio.


Não é necessário o uso de palavras, pois só o fato dos pais saberem qual o significado da oferenda secreta é suficiente para dar força mágica ao Ebo.

Nada porém dever ser feito sem confirmação e autorização de Òrúnmìlà, pois só a ele cabe nos orientar em nossas dificuldades e dúvidas. As folhas são colhidas como oferenda e utilizadas para fazer fricções no corpo, ou na feitura de pós mágicos que serão esfregados nas incisões no corpo e rosto dos Àbíkú, e na confecção de amuletos (Onde) ou para banhos rituais. Cada folha tem sua frase mágica, chamada Ofo, que aumenta seu poder de atuação no Ebo. Cito aqui textualmente os Ofo escritos por Pierre Verger:


Ewé Abirikolo, insinu Òrun e pehinda.

(Folhas de Abirikolo, coveiro do Céu, voltai)

Ewé Agidimagbayin, Olorum maa ti kun, a a ku mo

(Folha de Agidimagbayin, Olorun fecha a porta do Céu para que não morramos mais)

Ewé Idi l'ori ki ona Òrun temi odi

(Folha de Idi, dizei que o caminho do Céu está fechado para mim)

Ewé Ija Agbonrin

(Não ande pelo longo caminho que conduz ao Céu)

Ewé Lara Pupa ni osun a won Àbíkú

(A Folha de Lara Vermelha é o cânhamo dos Àbíkú)

Olubotuje ma je ki mi bi Àbíkú omo

(Olubotuje não me deixe parir filhos Àbíkú)

Opa Emere ki pe ti fi ku, yio maa eu ni, nwon ni, nwon ba ri Opa Emere

(Vara de Emere não os deixe morrer, isto lhes agrada, ver a Vara de Emere) [2].


As crianças Àbíkú devem, no sétimo dia a partir do nascimento, se forem meninas, ou no nono dia, se forem meninos (se for o caso de gêmeos, o dia certo é o oitavo) passar pelo ritual de Ikomojade , quando recebem um nome específico que desestimule sua volta ao Òrun. Nesta cerimônia são usados água, dendê, sal, mel, obì, peixe, gin, atare.


NOMES ÀBÍKÚ

Omolabake - Esta é uma criança que eu mimarei.

Kujore - Deus poupou este aqui.

Siwoku - Pare de morrer. Tire as mãos da morte.

Kalejaye - Sente-se e goze a vida.

Omotunde - A criança voltou.

Maku - Não morra.

Kikelomo - Crianças são feitas para serem mimadas.

Moloko - Não tem mais enxada para enterrar.

Ayedun - A vida é doce.


Os nomes Àbíkú negam a morte e contam a doçura e a alegria da vida. Contam também como a Terra é bela e boa para se viver. Deve-se sempre chamar a criança por este nome, que pode ser incorporado oficialmente ou não aos seus outros nomes e sobrenomes. Isto também ajuda no rompimento do vínculo com o Egbe Òrun Àbíkú. Como a descoberta do pacto é algo difícil, sempre próximo ao dia do aniversário da criança, até que esta complete 19 anos ou pelo prazo que o Ifá determinar, devem ser feitas oferendas nos locais sacralizados, acompanhadas ou não de Ebo a Egbe Eleriko. Para Òrìsà Egbe se colocam, em uma grande cabaça, os seguintes elementos: Ovos; Akasa; Iyan; Akara; Eba; cana-de-açúcar; Obi; Éerù, Ekodide; Bananas; Àádun; Doces - em um número de 1 ou 6. Esta cabaça é fechada, colocada em um saco e solta num rio, com acompanhamento de rezas e cantigas.


REZA (DE IBADAN)

Egbe. a afável mãe, aquela que é apoio suficiente para aqueles que a cultuam.

Aquela que veste veludo, a elegante que come Cana-de-Açúcar na estrada de Oyo.

Aquela que gasta muito dinheiro em óleo de palma.

Aquela que está sempre fresca e tem fartura de óleo com o qual ela realiza maravilhas.

Aquela que tem dinheiro para o luxo, a linda.

Aquela que sucumbe à seu marido como à uma pesada clave de ferro.

Aquela que tem dinheiro para comprar quando as coisas estão caras [3].


CANTIGA [DE LALUPON]

Por favor, use um Oja.

O Oja é usado para atar as crianças em nossas costas.

Eu posso cultuá-la todo o quinto dia.

A Mãe Egbe que mora entre as plantas.

Dê-me meus próprios filhos.

Eu posso cultuá-la a cada cinco dias [3]


Os Àbíkú não são, como querem certos autores ou sacerdotes, seres maléficos, que tem por "missão" causar sofrimento às suas mães. Eles carregam consigo, por causa de seu constante morrer/renascer, o peso de Iku, a morte, e são seres divididos entre a vontade de ficar na Terra com suas famílias e o desejo e a obrigação de retornar ao Egbe Òrun. O Bàbálòrìsà ou Ìyálòrìsà, tenho verificado que uma criança é Àbíkú, deve estar preparado para contornar a natural reação dos familiares, de medo, susto, repulsa e mesmo horror, porque a primeira impressão de pais não habituados ao assunto, é crer que o sacerdote coloca seu filho em uma classificação espiritual de maldade e perversão. Também o risco iminente de uma morte súbita apavora a família que tende a reagir com agressividade ou incredulidade, e quer garantias infalíveis e imediatas que isso não é verdade, por quaisquer meios.


Portanto, é necessário que se explique aos pais o problema, e que se dê ao mesmo tempo soluções adequadas, que se cite casos e exemplos, naturalmente sem falar em nomes ou detalhes desnecessários, a fim de que os familiares concordem em ser totalmente esclarecidos e orientados para uma solução definitiva. Explicar também que oferendas "podem" reter o Àbíkú na Terra, se

feitas corretamente, mas antes que tenha sido o pacto identificado e rompido, a oração e a crença profunda nos Òrìsà é de grande valia. Mães que já tenham perdido filhos Àbíkú devem ser avisadas da necessidade de oferendas para que o Àbíkú não volte a nascer de seus corpos e elas possam dar à luz crianças normais.


Por vezes o nascer e morrer inúmeras vezes de uma criança pode abalar física e psiquicamente a Mãe e recursos médicos e terapêuticos "nunca" devem ser abandonados. Pelo contrário, sua utilização deve ser incentivada, em combinação com o tratamento espiritual. Os pais não devem considerar isso com "castigo", "karma", "feitiço" ou outras explicações engendradas pela falta de conhecimento. Para isso o sacerdote deverá esclarecê-los e pacificá-los com a solidez e peso de seus argumentos.


Assim, no Brasil, como nos países Yorùbá, a problemática Àbíkú será contornada e menos pais serão vítimas de sofrimento causado pela morte de seus filhos.

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Sumário:

Ogbanje/abiku referem os povos que são acreditados dar um ciclo ràpida e repetidamente com o nascimento e a morte. Uma seqüência de nascimentos familial consecutiva e de mortes dos infantes é interpretada como a mesma criança que morre e carregada repetidamente outra vez. Os Igbos acreditam que o ogbanje resulta da subversão do destino humano pela aliança intencional do recém-nascido com deidades que guardam a relação postulada entre o nascimento e a existência do pre-nascimento (espírito), quando o atributo de Yoruba muito abiku à possessão de uma gravidez por brincalhões do espírito referiu o mais frequentemente como o emere. As pessoas de sobrevivência manifestam anomalias da vida psicológica com a vida ou os sonhos vívidos de fantasia caracterizada pela presença de água, do jogo orgiastic com crianças estranhas, e do contato assustador com uma deusa da água - água do mammy. As crianças e os adolescentes etiquetados exibem frequentemente comportamento dissociativo, e outro maladaptive manipulativo, histriónico. Podem igualmente ser dotado. As práticas contraditórias e facultative da indulgência excessiva de e da hostilidade aparatosa para crianças de ogbanje/abiku são descritas mas compreendidas melhor como exposições da aceitação da vida e da rejeção da morte. Este papel relata um estudo da distribuição da cosmologia cultural em dar forma a respostas adaptáveis do indivíduo e do grupo à mortalidade infantil elevada em Nigéria.


Fonte de pesquisa; Ojé João (Ojé Deyí) SP.